quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Teologia e Moral Vaishnava


1. JUSTIÇA E COMPAIXÃO
Como em toda sociedade, conflitos morais ocorrem na cultura Védica,
freqüentemente envolvendo uma tensão entre princípios morais de justiça e compaixão.
De fato, encontramos exemplos disto nos próprios passatempos do Senhor Krishna,
geralmente resultando numa tentativa de encontrar um equilíbrio entre justiça e
compaixão.
ASVATTHAMA
Encontramos um notável exemplo disto no primeiro canto do Bhagavatam,
quando Arjuna prende o assassino Asvatthama e o traz de volta ao campo dos Pandavas.
A seqüência dos eventos é como segue:
4
1.7.35 O Senhor Krishna ordena Arjuna a matar o preso Asvatthama.
1.7.35-39 Krishna apresenta a causa para matar Asvatthama, ordenando Arjuna
diretamente, mais uma vez, [1.7.39] a matá-lo.
1.7.40-41 Arjuna decide não matar Asvatthama, apesar de ter sido ordenado
duas vezes por Krishna a fazê-lo, e, pelo contrário, o trás de volta ao campo dos
Pandavas entregando-o a Draupadi.
1.7.42-48 Draupadi insiste pela libertação de Asvatthama sob o pretexto de
compaixão pela mãe dele e respeito pela casta brahmana.
1.7.49 Yudhisthira concorda com Draupadi.
1.7.50 Nakula, Sahadeva, Yuyudhana, Arjuna, Krishna e todas as mulheres,
concordam com Draupadi.
1.7.51 Bhima insiste em matar Asvatthama.
1.7.53-54 Krishna diz a Arjuna que Asvatthama deveria ser morto e não morto, e
ordena Arjuna a satisfazer tanto Draupadi quanto Bhima.
1.7.55-56 Arjuna corta o topete e a jóia do prisioneiro e o expulsa, humilhado e
socialmente morto, do campo.
Podemos notar o seguinte sobre essa história:
A. O debate sobre o destino de Asvatthama centra-se sobre o dharma, o qual é
uma das palavras padrão para a moralidade.
B. Havia tensão entre duas posições morais, ambas posições defendidas por
grandes devotos.
C. Krishna ordenou uma punição severa, mas então mudou Sua posição ao ouvir
o apelo compadecido de Sua devota, Draupadi.
D. Bhima insiste por justiça, Draupadi insiste por misericórdia. Krishna
finalmente aceita uma conciliação entre justiça e misericórdia.
Uma outra história do Bhagavatam, encontrada no décimo canto, capítulo
cinqüenta e quatro, ilustra o desejo do Senhor Krishna em fazer uma conciliação entre
os princípios morais de justiça e misericórdia. Aqui está a seqüência deste passatempo.
RUKMI
10.54.31 Tendo raptado Rukmini, o Senhor Krishna prepara-Se para matar o
violento Rukmi.
10.54.32-33 Assustada, Rukmini roga para Krishna não matar seu irmão.
10.54.34 Rukmini desperta a compaixão de Krishna e Ele não mata Rukmi.
10.54.35 Krishna amarra Rukmi e caçoa-o cortando seu cabelo e bigode.
10.54.36-37 O Senhor Balarãma, sendo misericordioso, liberta Rukmi e puni
Krishna, acusando-O de fazer algo que é “asadhu” e “terrível para nós”, uma vez
que “desfigurar um parente é como matá-lo.”
10.54.38-50 Balarãma prega para Krishna e Rukmini.
Essa história claramente assemelha-se àquela de Asvatthama:
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A. Krishna primeiro prepara-Se para fazer justiça matando Rukmi, assim como
Krishna primeiro ordenou Arjuna a matar Asvatthama e trazer sua cabeça para
Draupadi.
B. Compadecida, Rukmini opõe-se a esta morte, assim como Draupadi opôs-se à
morte de Asvatthama.
C. Assim como com Asvatthama, Krishna toma um rumo intermediário,
matando simbolicamente por humilhação.
D. Balarãma apresenta uma quarta posição, as três primeiras sendo 1) Decisão de
Krishna pela morte de Rukmi; 2) Apelo de Rukmini pelo indulto de seu irmão; e
3) Decisão de Krishna em matar Rukmi simbolicamente. Balarãma pune Krishna
por matar simbolicamente um parente e em seguida censura Rukmini por seu
excessivo sentimento familiar.
E. Assim como na história anterior de Asvatthama, encontramos Krishna
determinado a fazer justiça, e, depois, conciliando a punição após um apelo de
um devoto por misericórdia.
Em ambas as histórias, de Asvatthama e Rukmi, encontramos a justiça
temperada pela misericórdia, resultando numa ação de justiça misericordiosa, a qual não
obedece aos estritos textos da lei.
2. DEVERES MORAIS CONFLITANTES
KUNTI E PANDU
Encontramos outro exemplo de tensão entre deveres morais rivais no
Mahabharata, numa conversa entre Pandu e sua esposa Kunti.
Amaldiçoado a nunca gerar uma criança, e, assim, incapaz de proporcionar um
herdeiro para o trono Kuru, Pandu roga à sua devotada esposa Kunti para gerar uma
criança com um pai substituto, um brahmana santo. Finalmente, é claro, Kunti revelará
que Durvasa abençoou-a com o poder de chamar os semideuses, e, assim, ela gerará três
filhos com, Dharma, Vayu e Indra. Mas, por enquanto, Pandu está tentando convencê-la
a obedecê-lo e gerar um filho com um brahmana santo. Entre seus argumentos, Pandu
declara:
“Ó filha do rei, conhecedores do dharma sabem que uma esposa deve fazer o
que o esposo diz, quer ele fale de acordo com o dharma ou mesmo se ele fala o que não
é dharma.” [MB 1.113.27] [1]
Pode-se ler esse verso e concluir que uma esposa deve sempre obedecer a seu
esposo, esteja este certo ou errado, uma vez que isto é o que Pandu declara. Entretanto,
logo no capítulo seguinte, após Kunti ter dado a Pandu três filhos, Pandu pede a Kunti
para chamar outro deus e gerar outro filho, embora Kunti firmemente recuse o pedido
de seu esposo e diga:

“Não se recomenda um quarto filho dessa forma, a não ser em tempos de
dificuldades. Com uma quarta criança, eu seria uma mulher incasta, com uma quinta,
me tornaria uma meretriz.” [MB 1.114.65]
Pandu claramente declarou que uma esposa deve obedecer a seu esposo, quer ele
esteja certo ou errado. Mas, na verdade, quando Kunti está certa, Pandu aceita seu
argumento e o segue, abandonando um princípio moral que ele acabara de declarar.
Kunti então chama os gêmeos Asvins para Madri, que gera assim Nakula e
Sahadeva. Mas quando Pandu pede ainda outro filho para Madri, Kunti recusa e
novamente Pandu acata os desejos de sua esposa.
Encontramos o mesmo padrão dialético de reivindicação moral e deveres,
repetidos aqui: um homem forte empenha-se em agir de um modo errado, reivindicando
tais atos serem justos. Uma respeitável senhora então insiste em uma conduta um tanto
diferente, e o homem retifica seu comportamento.
A FAMÍLIA BRAHMANA DE EKA-CAKRA
No Mahabharata, Adi Parva, capítulos 145-7, encontramos outro exemplo
notável de conflito moral. Na cidade de Ekacakra, onde os Pandavas vivem incógnitos
na casa de um a brahmana, um poderoso Raksasa chamado Baka aterroriza a cidade,
aproveitando-se do fraco e incompetente rei que rege aquela região. Em troca de sua
proteção, os cidadãos são forçados a suprir periodicamente o demônio com uma
carroçada de comida e um humano, selecionado a cada vez de uma das famílias da
cidade.
Kunti ouve sua família brahmana anfitriã ocupada em uma estranha e chorosa
discussão na qual todos, esposo, esposa, filha e filho, insistem em sacrificarem-se para
salvar a família, pois chegou a vez desta família alimentar o demônio. Finalmente, é
claro, Bhima mata o demônio, mas este incidente mostra claramente que na cultura
védica havia conflitos morais.
Por um lado, um homem deve proteger sua família, no entanto, se o pai se
entregasse ao demônio, a sociedade saquearia sua família desprotegida. A esposa achou
que seu dever era servir seu esposo sacrificando-se ao demônio, no entanto, como um
esposo poderia, tendo jurado proteger sua esposa, sacrificá-la ao demônio. Até mesmo a
filha queria salvar seus pais e seu pequeno irmão dando-se ao demônio.
O ponto chave aqui é que circunstâncias práticas apresentaram conflitos morais
aparentemente insolúveis para uma família boa, brahmínica e védica. O dever moral da
família não lhes era absolutamente claro, e eles não podiam concordar no que fazer, já
que cada ato moral possível parecia violar outro dever moral de igual importância.

3. IDEAL VS REAL
Outra tensão moral encontrada em toda sociedade surge da inevitável lacuna
entre ideal e real. A cultura védica ensina os mais elevados princípios morais e
espirituais, mas também engaja a natureza prática humana com uma notável franqueza e
realismo. Os princípios religiosos do dharma funcionam como princípios morais na
cultura Védica. E, quando estudamos a aplicação do dharma em textos como o
Bhagavatam e o Mahabharata, encontramos que, na grande maioria dos casos, o
dharma é usado para regular as duas mais apaixonadas, e assim mais perigosas,
atividades humanas: sexo e violência.
A fim de entender claramente a abordagem védica às questões morais, devemos
observar a maneira que a cultura védica lida com o sexo e a violência. Como declarado
acima, em virtude destas duas atividades gerarem a mais desenfreada paixão nos seres
humanos, são precisamente estas duas atividades que mais ameaçam a ordem moral e
espiritual na sociedade, e as quais, portanto, devem ser reguladas pelo dharma,
moralidade.
Para ilustrar a madura complexidade da abordagem védica às questões morais,
consideremos exemplos da abordagem védica à violência, na forma de caça, e, ao sexo,
na forma de poligamia. Perceberemos, em cada caso, que a cultura védica ensina
princípios morais ideais, no entanto, ao mesmo tempo, reconhece a real natureza
humana e cria um espaço cultural para pessoas sinceras que não podem praticar o ideal.
CAÇA
A caça a animais viola profundamente um dos mais sérios princípios morais
Védicos: ahimsa, não prejudicar o inocente. O Senhor Krishna menciona ahimsa quatro
vezes no Bhagavad-Gita [10.5, 13.8, 16.2, 17.14].
No 13.8, Krishna afirma que ahimsa, junto com outras qualidades, é
conhecimento, e que tudo mais é simplesmente ignorância. Assim, himsa, prejudicar o
inocente, é ignorância. No 18.25, Krishna declara que o trabalho empreendido sem
considerar a himsa, ou prejuízo ao inocente, resultante, é trabalho no modo escuridão.
Krishna também declara, no 18.27, que um trabalhador na paixão é himsatmaka, o que
Prabhupada traduz por “sempre invejoso”.
No 16.2, o Senhor Krishna declara que ahimsa é uma das qualidades divinas
para qual Arjuna nasceu. E, no 17.14, o Senhor diz que ahimsa é um componente
necessário à austeridade corpórea. O Bhagavatam glorifica, similarmente, a qualidade
moral de ahimsa:
O 1.18.22 declara que ahimsa é a verdadeira natureza da alma pura. O 3.28.4
prescreve que se deve praticar ahimsa. O 7.11.8 ensina que ahimsa e outras qualidades
são paro dharmah, o mais elevado princípio religioso.

Significativamente, o 11.17.21 sustenta que ahimsa é sarva-varnika, para todos
os varnas. E, no 11.19.33, Krishna, Ele próprio, ensina ahimsa.
Similarmente, o Mahabharata, 1.11.12, afirma que ahimsa é o supremo dharma
para todas os seres vivos.
Srila Prabhupada muitas vezes ensinou que ahimsa significa especialmente que
não se deve matar animais. Por exemplo, neste significado ao Bhagavad-Gita 16.2, ele
escreve:
“Ahimsa quer dizer não impedir a vida progressiva de nenhuma entidade viva.
Ninguém deve pensar que, como a centelha espiritual não morre mesmo após o corpo
ser morto, não há mal algum em obter gozo dos sentidos através da matança de animais.
Hoje em dia as pessoas estão habituadas a comer animais, apesar de terem um amplo
suprimento de cereais, frutas e leite. Não há necessidade de matar animais. Este preceito
é para todos. [ênfase minha] Quando não há alternativa, pode-se matar um animal, mas
ele deve ser oferecido em sacrifício. De qualquer forma, quando há um amplo
suprimento de alimento para a humanidade, aqueles que desejam progredir em
percepção espiritual não devem cometer violência contra os animais. A verdadeira
ahimsa quer dizer não impedir a vida progressiva de ninguém. Os animais também estão
progredindo em sua vida evolutiva, transmigrando de uma categoria de vida animal para
outra. Se determinado animal é morto, então seu progresso é interrompido. Logo,
ninguém deve interromper o progresso deles simplesmente para satisfazer o paladar.
Isto se chama ahimsa”.
Similarmente, em seu significado ao Srimad-Bhagavatam 1.3.24, ele declara:
“Não há justiça quando há matança de animais. O Senhor Buddha queria parar
com isto completamente, e por isso seu culto de ahimsa foi propagado não apenas na
Índia, mas também fora do país”.
No entanto, apesar dessas numerosas e pesadas declarações escriturais,
prescrevendo ahimsa e proibindo himsa, encontramos que os reis Védicos muitas vezes
caçavam. Prabhupada ensinou que os Ksatriyas, reis guerreiros responsáveis por
defender o povo, eram permitidos caçar com vistas a aprimorar suas habilidades com
armas. Entretanto, como Prabhupada ressalta em seu significado ao Bhagavatam
4.22.13, mesmo tal caça não era auspiciosa. Na verdade, era, ainda assim, considerado
um pecado. Prabhupada escreve:
“Os reis... às vezes, ocupam-se em matar animais na caça porque devem praticar
a arte da matança, caso contrário, ser-lhes-ia muito difícil lutar contra seus inimigos.
Semelhantes coisas não são auspiciosas. Quatro espécies de atividades pecaminosas –
associar-se com uma mulher para fazer sexo ilícito, comer carne, intoxicar-se e jogar –
são permitidas para os ksatriyas. Por razões políticas, às vezes, eles precisam praticar
estas atividades pecaminosas.”
Recorde que o Bhagavatam [11.17.21] diretamente declara que ahimsa é sarvavarnika,
para ser praticado por todos as ordens sociais, incluindo os ksatriyas. Na
verdade, o Bhagavatam mostra que mesmo os reis não estão isentos das reações
pecaminosas de matar animais. Assim, no 4.25.7-8, o grande Narada diz para o Rei
Barhisman:
“Ó Prajapati! Ó Rei! Veja os animais, coisas vivas que você cruelmente matou
aos milhares em sacrifício.
Esses animais estão esperando por você, lembrando sua carnificina. Quando
você tiver partido deste mundo, eles o fatiarão com chifres de ferro por você tê-los
enfurecido.”
Similarmente, o Bhagavatam afirma no 5.26.24 que mesmo os ksatriyas que
sentem prazer em caçar vão para o inferno conhecido como Pranarodha. Os comentários
de Prabhupada sobre este verso são como segue:
“Os homens pertencentes às classes superiores (brahmanas, ksatriyas e vaisyas)
devem cultivar conhecimento através do qual passem a saber o que é o Brahman, e
também devem dar aos sudras a oportunidade de chegar a essa plataforma. Se, ao
contrário, entregam-se à caça, recebem a punição descrita neste verso. Eles não apenas
são trespassados pelas flechas dos agentes de Yamaraja, como também são postos no
oceano de pus, urina e excremento, descrito no verso anterior.”
Como entendemos este paradoxo? Por um lado, as escrituras védicas não
poderiam ser mais claras em seu ensinamento de ahimsa, não prejudicar o inocente, e
sua condenação de himsa, prejudicar o inocente. Por outro lado, parece que uma
concessão especial é dada para os guerreiros caçarem. Entretanto, esta concessão é
problemática por várias razões:
1. O Shastra ensina que até mesmo reis são punidos por matar animais.
2. O Bhagavatam declara que todas as ordens sociais, incluindo guerreiros,
devem praticar ahimsa.
3. A história Védica ensina a poderosa lição de que muitos dos maiores reis
Védicos sofreram trágicos destinos enquanto caçavam. Exaltados reis tais como
Dasaratha, Pandu e Pariksit, também enfrentaram desastres enquanto caçavam. E
o meio-irmão de Dhruva, Uttama, foi assassinado numa expedição de caça. Não
há equivoco de que tais lições históricas desencorajam a caça.
É justo concluir que a cultura védica encontra aqui um ponto de equilíbrio entre
o ideal e o real. O ideal é claramente ahimsa. O “real”, entretanto, é que ao longo da
história registrada por todo o mundo, guerreiros caçam. E, ao longo da história, nós
verificamos que guerreiros de fato não limitam sua caça ao mínimo necessário para
aprimorar suas habilidades essenciais como protetores da humanidade.
Desse modo, encontramos a seguinte estratégia moral apropriada:
1. O ideal é prescrito.
2. Aquilo que viola o ideal é proibido.
3. Uma concessão é feita para aqueles que simplesmente não podem ou não
seguirão o ideal.
4. Aqueles que recebem essa concessão, não obstante, são aceitos dentro da
sociedade.
5. Os perigos e repercussões em aceitar esta concessão são claramente indicados.
Eu ressaltei anteriormente que dharma, moralidade, enfoca especialmente as
duas mais perigosas paixões humanas: sexo e violência. Em seu significado ao
Bhagavatam 4.26.4, o qual descreve como o Rei Puranjana saiu para caçar animais,
Srila Prabhupada relaciona caça com luxúria.
“Uma forma de caça é conhecida como caça às mulheres. Uma alma
condicionada nunca fica satisfeita com uma só esposa. Aqueles cujos sentidos estão
demasiado descontrolados tentam especialmente caçar mulheres. O fato de o rei
Puranjana ter abandonado a companhia de sua mulher religiosamente desposada
representa a tentativa da alma condicionada de caçar muitas mulheres, visando ao gozo
dos sentidos.”
Há uma clara similaridade entre caçar e promiscuidade sexual, por ambas serem
tentativas de desfrutar o corpo físico de outra alma, com pouca ou nenhuma
consideração pelo bem estar último desta outra alma. Assim, não é surpreendente que
nós encontremos uma abordagem moral Védica para a promiscuidade sexual que se
parece com a abordagem à caça.
Observemos brevemente a prática védica da poligamia, a qual foi praticada
especialmente entre os reis guerreiros. A palavra sânscrita sapatni significa “co-esposa”.
Uma outra palavra sânscrita, diretamente derivada desta, é sapatna, “inimigo”. Não é
por acaso que, da palavra sânscrita para “co-esposa”, nós temos a palavra sânscrita para
“rival, adversário e inimigo”.
Assim, no Bhagavad-Gita 11.34, o Senhor Krishna diz a Arjuna, “Você
conquistará seus inimigos na batalha.” A palavra para “inimigos” é sapatna, derivada de
sapatni, “co-esposa”.
Similarmente no Bhagavatam nós encontramos várias vezes a palavra sapatna
traduzida como “inimigo”. Alguns exemplos são encontrados em 1.14.9, 3.18.4, 5.1.18,
5.1.19, 5.11.15, 7.2.6, 8.17.10, 10.49.10, 11.1.2, e 11.16.6.
Similarmente, no 5.1.17, Prabhupada traduz o termo shat-sapatna, “os seis
inimigos” (a mente e os sentidos), como “seis co-esposas”. No 8.10.6, Prabhupada
traduz o termo sapatna como “inimigos violentos”.
Adicionalmente, nós temos evidências históricas de que mesmo nas melhores
famílias Védicas a poligamia podia levar a sérios problemas. Na história de Citraketu,
encontramos no 6.14.42 que suas co-esposas arderam-se de inveja de uma esposa que
lhe gerou um filho. Por conseguinte, no 6.14.43, as co-esposas matam o filho único do
rei.
A rainha Kaikeyi, temendo que o filho de sua co-esposa suprimisse seu próprio
filho, ocasionou o banimento do Senhor Rãma à floresta, contra os desejos de seu
próprio esposo, e, na verdade, de todo o reino.
Afora isso, numerosos versos Védicos ensinam os males da luxúria e exaltam as
virtudes da restrição sexual. Foi nestes fundamentos que Prabhupada rejeitou a
poligamia na ISKCON. Prabhupada ensinou que a poligamia remediou o desequilíbrio
entre a população masculina e feminina na sociedade humana, e os reis eram
freqüentemente poligâmicos, embora encontremos que a poligamia muitas vezes
conduziu a problemas. De fato, da palavra “co-esposa”, sapatni, vem a palavra sapatna,
a qual indica severa disputa entre inimigos.
A história do mundo ensina que os guerreiros e governantes do começo dos
tempos procuraram desfrutar muitas mulheres. Uma proibição absoluta da caça, ou de
múltiplos parceiros sexuais, entre os governantes, somente conduziria à difusão da
hipocrisia, o que debilitaria seriamente a força da lei e escritura Védicas. Para evitar
isso, a cultura védica ensina o ideal e, dentro de limites apropriados, acomoda o real.
Essa acomodação, freqüentemente implica conectar uma atividade desfavorável,
porém inevitável, a algum benefício social. Caçar é ruim, mas isto alcança um propósito
social bom por treinar os reis a protegerem o inocente, mesmo que eles matem outras
criaturas inocentes. Indulgência sexual é ruim, mas a poligamia alcança o bem social de
proteger as mulheres que, de outra maneira, podem não encontrar esposos.
A poligamia e a caça são questões morais claramente diferentes, embora, em
alguns aspectos, elas sejam similares: Prabhupada ressaltou a relação geral entre caça e
luxúria. E, em ambos os casos, a cultura Védica simultaneamente ensina as vantagens
morais e espirituais da restrição, mas também dá algum espaço, sob certas condições,
somente para em seguida contar histórias que ilustram os problemas encontrados dentro
deste espaço concedido. Tanto a caça, quanto a poligamia, ilustram o método pelo qual
a cultura védica tenta lidar com a inevitável tensão entre o ideal e o real.
Encontramos um outro exemplo de uma estratégia realista para lidar com o
desejo humano por sexo dentro da própria ISKCON. No Bhagavad-Gita 9.27, o Senhor
Krishna ensina claramente que nós devemos executar todos os atos como uma oferenda
a Ele. Krishna também declara no 7.11 que Ele está presente na sexualidade que não se
opõe ao dharma, moralidade. Srila Prabhupada explicou repetidamente que os devotos
oferecem suas vidas sexuais a Krishna procriando crianças conscientes de Krishna.
Assim, num senso estrito, todos os devotos iniciados devem prometer abandonar o sexo
ilícito, i.e. o sexo que não é para a procriação.
Isto é o ideal, entretanto, não é o real. A situação real na ISKCON é que muitos,
realmente muitos, chefes de família seguem o mais fácil, a versão menos ideal da regra:
não praticar sexo fora do casamento. O próprio Prabhupada, algumas vezes, ensinou
tanto o ideal quanto, em muitas outras, a versão “real” dessa regra, a versão que eles
podem realmente seguir.
Não pode absolutamente haver dúvidas de que, em última análise, um devoto
consciente de Krishna deve abandonar o sexo não destinado à procriação. E não pode
absolutamente haver dúvidas de que um número muito grande de chefes de família da
ISKCON não são capazes de seguir essa regra sempre. Aqui, novamente, encontramos a
cultura Védica, através do intermédio da ISKCON, ensinando o ideal e acomodando o
real. A suposição em todos estes casos é que, as pessoas que, de um modo ou de outro,
permanecem sob o abrigo da cultura Védica se elevarão finalmente à plataforma ideal.
Assim, a cultura védica sempre procurou manter sob seu abrigo almas sinceras que
estão fazendo seu melhor para adotar valores mais elevados, mesmo quando essas almas
estão situadas bem abaixo do padrão ideal.
UM DRAMÁTICO EXEMPLO FINAL ILUSTRA ESSE PRINCÍPIO.
No Sri Caitanya Caritamrta, 2.24.230-258, Narada narra a história de Mrgari, o
caçador, a qual demonstra claramente o princípio moral Védico de escolher dos males
morais o menor . Aqui está uma passagem dessa história:
Narada disse: “Só te peço uma coisa em caridade. Peço-te que de hoje em diante
mate os animais completamente, em vez de os deixares semimortos.”
O caçador retrucou: “Ilustre cavalheiro, que me pedes? Que vês de errado no
fato de os animais ficarem por aí estirados no chão, moribundos? Poderias, por favor,
explicar-me isso?”
Narada redargüiu: “Se deixas os animais moribundos, causas a eles dor
propositadamente. Portanto, terás que sofrer a represália. Tua ocupação é matar animais.
Esta é uma pequena ofensa de tua parte, mas, quando deliberadamente causas a eles dor
desnecessária, deixando-os moribundos, cometes pecados muito grandes. Os animais
por ti mortos e a quem causastes dor desnecessária, todos eles, sem exceção, matar-te-ão
seguidamente em tua próxima vida e vida após vida.” [CC 2.24.247-251]
Narada, aqui, incontestavelmente introduz outro princípio moral Védico: a
gravidade de um pecado é relativa, e é medida em relação ao status e à consciência do
pecador. Assim, Narada diz explicitamente,
“Você é um caçador. Ao matar, seu pecado é pequeno. Ao perversamente causar
sofrimento, seu pecado é sem limites.”
Devemos observar aqui o seguinte:
1. As escrituras védicas ensinam que matar animais inocentes é de fato um
pecado. Mas, porque Mrgari era um caçador, sua ofensa era alpa, “pequena”. O
pecado é relativo ao pecador.
2. Em comparação a essa “pequena” ofensa, causar sofrimento
desnecessariamente e conscientemente é chamado de um “mal ilimitado”.
3. Narada persuade Mrgari ao menor dos males.
4. Seguindo o método acima, Narada enfim trás Mrgari à consciência de Krsna
pura.
4. ATOS E CONSEQÜÊNCIAS
Afora as inevitáveis tensões morais entre justiça e misericórdia, e entre o ideal e
o real, podemos observar ainda nas escrituras Védicas duas filosofias morais distintas,
uma moralidade fundamentalmente no ato em si, e a outra buscando a moralidade
fundamentalmente nas conseqüências dos atos. Ambas as visões são bem conhecidas
para os filósofos ocidentais pelos nomes de ética deontológica e conseqüêncialismo.
A primeira, a ética deontológica, em linhas gerais argumenta que o
comportamento moral depende do ato em si, independentemente das conseqüências. A
segunda, o conseqüêncialismo, argumenta que o comportamento moral deve produzir
boas conseqüências.
Encontramos exemplos de ambas as filosofias morais na vida da grande alma
Bhishma, que, em sua juventude, manifestou uma preocupação fundamental de que o
ato em si seja moral, mas que, em sua velhice madura, claramente percebeu a
importância moral das conseqüências.
BHISHMA JOVEM
No Mahabharata, a morte do rei jovem e sem filhos, Vicitravirya, filho de
Satyavati e Santanu, deixou a dinastia Kuru sem um governante. Nesta precária
situação, os inimigos políticos dos Kurus começaram a roubar suas terras.
Em desespero, a Rainha Mãe Satyavati persuadiu Bhishma a casar-se com as
viúvas de Vicitravirya e governar o reino. Bhishma inflexivelmente recusou com estas
palavras:
“Sem dúvida, mãe, você declarou o dharma mais elevado. [Mas] Você também
conhece meu voto mais elevado com relação à progênie. E você está ciente do que
aconteceu quando devia ser pago o seu preço de noiva.
Mais uma vez, Satyavati, faço o mesmo voto a você. Eu posso renunciar a
soberania sobre os três mundos, ou ainda entre os deuses, ou o que quer que seja maior
que isto, mas de forma alguma eu posso abandonar meu voto.
A terra pode abandonar a fragrância, e a água seu sabor. Do mesmo modo, a luz
pode abandonar a forma, o ar a qualidade do toque, o sol sua luz e o fogo fumegante seu
calor, o éter pode abandonar o som, a lua pode abandonar a frieza de seus raios, Indra,
assassino de Vritra, pode renunciar sua coragem, o rei do dharma pode abandonar o
dharma, mas eu jamais, de forma alguma, decidirei abandonar a verdade.” [MB 1.97.13-
18]
Essa fala é admirável, mas também revela uma falta de interesse quanto às
conseqüências. Em um sentido, Bhisma afirma aqui que, mesmo se o universo fosse
colapsar, ele não abandonaria seu voto. As conseqüências não importam. Tudo o que
importa é a integridade de um ato em si mesmo, neste caso, o ato de se manter um voto.
A fala de Bhishma ilustra uma abordagem distinta de moralidade: o ato em si
deve ser moral, sem considerar as conseqüências. Embora Bhishma finalmente sugira a
Satyavati, como Pandu sugeriu a Kunti, que um brahmana qualificado seja solicitado a
gerar filhos em rainhas enviuvadas, Bhishma já deixou claro que, indiferente à
quaisquer possíveis conseqüências, ele não quebrará seu voto. Afinal de contas, se ele
tivesse aceitado a proposta de Satyavati, de casar-se e governar o reino, neste caso ele
teria falado falsamente ao pai de Satyavati, que a deu como noiva ao pai de Bhishma
somente sob a condição de Bhishma nunca se casar.
Há, entretanto, uma outra abordagem à moralidade na qual a preocupação
fundamental é com as conseqüências de um ato. O mais famoso proponente desta
abordagem pragmática é o próprio Krishna, é claro. De fato, Krishna ensina a filosofia
moral pragmática ao próprio Bhishma na Batalha de Kurukshetra. Encontramos nesse
caso, nos ensinamentos do leito de morte de Bhishma, que o grande avô Kuru aprendeu
bem a lição sobre filosofia moral do Senhor Krishna.
BHISHMA EM KURUKSETRA
Tanto o Mahabharata, quanto o Bhagavatam, revelam que no Campo de Batalha
de Kurukshetra o Senhor Krishna abandonou Seu voto de não lutar, a fim de proteger
Seu devoto Arjuna.
No Bhagavatam 1.9.37, o moribundo Bhishma recorda,
“Abandonando seu voto sagrado, Ele [Krishna] desceu da quadriga para tornar
minha promessa uma verdade ainda maior.”
No Mahabharata 6.102.66, numa famosa cena, Arjuna agarra as pernas de
Krishna, que está correndo para matar Bhishma, e roga a Krishna como segue,
“Pare ó pessoa de braços poderosos! Ó Keshava, anteriormente Você disse ‘Eu
não lutarei’, e Você não deveria tornar falsas Suas palavras. Ó Madhava, o mundo dirá
que Você falou falsamente e toda essa responsabilidade certamente cairá sobre mim.
Devo matar Bhishma, o de voto fixo.”
Embora Krishna ceda, Ele estava claramente pronto a quebrar Seu voto para
produzir as conseqüências necessárias.
Similarmente, no Drona Parva do Mahabharata [7.164.68], Krishna diz a
Yudhisthira,
“Ó Pandava, pondo de lado o dharma, faça o que é prático pela vitória para que
Drona, da carruagem dourada, não mate a todos vocês na batalha.”
Posteriormente, na mesma cena, Krishna diz a Yudhisthira, “Você mesmo salve-nos de Drona. A inverdade [neste caso] é melhor que a verdade. As mentiras não poluem a quem as está falando quando a vida está em risco.”

APARÊNCIA E INTENÇÃO
No Karna-parva do Mahabharata, o Senhor Krishna conta a Arjuna duas
histórias para dramaticamente ilustrar que a verdadeira piedade não pode sempre ser
julgada por atos externos, mas, às vezes, preferivelmente pelas conseqüências destes
atos. A primeira história descreve um homem aparentemente pecaminoso que foi para o
céu, a segunda, narra o oposto: um sábio “religioso” que foi para o inferno. Em ambas
as histórias, o que mais importa não é o fato em si, mas, antes, as conseqüências do ato.
Aqui estão as histórias:
Krishna disse: “Havia um caçador de animais chamado Balaka que matava
animais para sustentar suas crianças e esposa, não por seu próprio desejo. Ele também
sustentava sua mãe cega, pai e outros dependentes. Sempre dedicado ao seu dever, ele
falava a verdade e não invejava.
Um dia, embora buscando presas com muito empenho, ele não encontrava
nenhuma. Então ele viu um bicho selvagem bebendo água e usando seu focinho como
olhos. Embora ele nunca tivesse visto uma criatura daquele jeito antes, ele a matou
imediatamente. Logo após isso, uma chuva de flores caiu do céu. E, do céu, veio um
aeroplano encantado ressonante com as canções das Apsaras e dos instrumentos
musicais, desejando levar embora [para o céu] aquele caçador de animais.
A criatura [morta] tinha executado austeridades e obtido uma benção, Arjuna, de
destruir todas as criaturas e, portanto, Svayambhu cegou-a. Tendo matado quem estava
decidida a destruir todas as criaturas, Balaka então foi para o céu. Portanto, é muito
difícil compreender o dharma.
Pois bem, havia um brahmana chamado Kaushika, não muito versado nas
escrituras, que morava [na floresta] na confluência de vários rios, não distante de uma
aldeia.
‘Devo sempre falar a verdade!’ Esse se tornou seu voto. Ó Dhananjaya, por isso
ele tornou-se famoso como um falante da verdade. Então, algumas pessoas entraram
naquela floresta temendo assaltantes. Na verdade, os cruéis assaltantes os seguiram
procurando-os diligentemente. Sabendo que Kaushika falava a verdade, os assaltantes
aproximaram-se dele e disseram, ‘Por qual caminho, senhor, todas aquelas pessoas
foram? Nós queremos a verdade. Fale se você sabe onde eles estão. Diga-nos!’
Assim questionado, Kaushika disse-lhes a verdade: ‘Eles estão escondidos
naquele bosque cheio de árvores, trepadeiras e arbustos.’ Então os assaltantes os
encontraram e os mataram cruelmente. Assim foi falado pelas autoridades. Por causa deste grande adharma de falar prejudicialmente, Kaushika foi para um inferno muito penoso por não ter compreendido os princípios sutis da moralidade. Seus estudos eram insuficientes, ele era tolo e não conhecia as divisões do dharma.” [MB 8.49.34-46, Ganguli 8.9.70]. O próprio Krishna explica então a Arjuna o significado dessas duas histórias:
“É difícil alcançar o mais elevado entendimento [da moralidade]. Verifica-se isso pelo raciocínio. Nessas circunstâncias, há muitas pessoas que simplesmente alegam que ‘a moralidade é escritura’. Embora Eu não Me oponha a esta visão, as escrituras não oferecem regras para todo caso”.
Essa declaração é a mais importante. Precisamente por causa das complexidades
da vida – as tensões entre justiça e misericórdia, o ideal e o real, o ato e sua
conseqüência, necessidades individuais e necessidades da sociedade – a moralidade,
dharma, nunca pode ser reduzida a uma lista de regras. O Senhor não Se opõe à noção de que as regras das escrituras governam a moralidade, entretanto, as regras por si mesmas não são suficientes. Deve-se analisar racionalmente os casos individuais e deve-se compreender as sutilezas da vida real. A falha moral, a qual conduziu-o a um inferno muito penoso, foi seu fracasso em compreender os “princípios sutis da moralidade”. Não se pode compreender as sutilezas da moralidade, a menos que se entenda o propósito da moralidade. Nesta mesma passagem do Mahabharata, o Senhor Krishna explica este propósito:
“A moralidade é ensinada para o progresso dos seres vivos. A moralidade [dharma] deriva-se do ato de manter [dharana]. Dessa maneira, as autoridades dizem que a moralidade [dharma] é aquilo que mantém os seres vivos. A conclusão é que, tudo aquilo que mantém é verdadeiramente dharma.” [MB 8.49.48-50]
Assim, embora Balaka fosse um caçador, sua intenção era sustentar sua família. Ele não era, em última análise, uma má pessoa, mas ele se encontrava numa situação indesejável. Similarmente, Narada disse a Mrgari, “Porque você é um caçador, para você matar animais é uma ofensa insignificante.” Os atos de Balaka eram abomináveis, mas sua intenção não era.
Em contraste, o ato de Kaushika foi superficialmente moral: ele disse a verdade. Porém, ao assim fazer, ele prejudicou outras pessoas. Ele colocou uma “moralidade” acima do bem real dos outros, não compreendendo que a moralidade só se caracteriza como tal quando beneficia os outros. Nós já vimos, no caso de Mrgari e Balaka, que a moralidade é relativa à situação de uma pessoa. No caso de Kaushika, o Senhor Krishna estabeleceu mais um princípio atenuante: a moralidade é relativa às circunstâncias.

Assim, o Senhor Krishna declara:
“Sempre que as pessoas tentarem injustamente roubar alguém, se essa pessoa
puder se livrar sem proferir um só som, então nenhum som deverá ser proferido. Ou, deve-se proferir necessariamente um som caso os assaltantes desconfiem do silêncio.
Nessa situação, considera-se melhor falar uma mentira a falar a verdade.” [MB 8.49.51-
52]

BHISHMA MADURO

Nos ensinamentos de Bhishma, falados de uma cama de flechas (Mahabharata,
Shanti-parva), encontramos que a poderosa lição de moral de Krishna – de que as conseqüências de fato importam, às vezes, mais do que o ato em si – não foi desperdiçada por Bhishma. O moribundo Bhishma fala sobre satyam, verdade, de um modo muito mais complexo e cheio de nuances do que ele fez em sua juventude. Ele está agora extremamente preocupado com as conseqüências, mais do que com o ato em si. E ele entende que em assuntos morais as aparências podem ser enganosas, uma lição que ele tirou das duas histórias de Krishna, do caçador Balaka e do brahmana Kausika. Veremos ainda Bhishma, no final de sua vida, repetir e parafrasear a linguagem
explícita de Krishna sobre este tópico.

Enquanto Bhishma estava deitado na cama de flechas, Yudhisthira perguntou
sobre moralidade (dharma). Significativamente, a verdade sobre a moralidade não era
óbvia mesmo para o rei da moralidade, Yudhisthira. Aqui está a conversa deles:

Yudhisthira disse:
“Como deveria se comportar uma pessoa que quer basear-se em princípios
morais? Eu procuro compreender isso, ó sábio, portanto, bondosamente explique, ó
melhor dos Bharatas.

Tanto a verdade quanto a falsidade existem cobrindo os mundos. Das duas, ó rei, qual deveria uma pessoa dedicada à moralidade praticar? O que é realmente verdade, o que é falsidade e qual é realmente o princípio moral eterno?”

Bhishma disse:
“Falar a verdade é virtuoso. Nada é mais elevado do que a verdade. Ó Bharata, eu falarei para você aquilo que é muito difícil de entender em Bhuloka. A verdade não deve ser falada e a falsidade deve ser falada num caso onde a falsidade torna-se verdade e verdade torna-se falsidade. Uma pessoa imatura é confundida em tal caso, onde a verdade não é firmemente estabelecida. Determinando verdade e falsidade, conhece-se então a moralidade.

Mesmo um não-ariano, carente de sabedoria, decerto um homem violento, pode alcançar grande compaixão, como Balaka alcançou matando o bicho cego. E o que é surpreendente quando um tolo, desejando moralidade, mas não a reconhecendo, comete um pecado realmente grande, como Kaushika no Ganges?

Tal questão, como esta que se refere a onde a moralidade deve ser procurada, é
muito difícil de responder. É difícil de avaliar; portanto, neste assunto, deve-se resolver a questão pelo raciocínio. Moralidade é aquilo que evita prejuízo para os seres vivos. Esta é a conclusão.

A moralidade (dharma) vem do ato de manter (dharana). Assim, as autoridades dizem que a moralidade mantém os seres vivos. Desta forma, aquilo que proporciona tal manutenção é dharma. Esta é a conclusão.

Certamente, algumas pessoas dizem, ‘a Moralidade é escritura’, enquanto outras
negam isso. Eu não nego, mas na verdade as escrituras não dão regras para todos os
casos. Sempre que as pessoas tentarem injustamente roubar a propriedade de alguém, não deve-se revelar para eles. Isto é verdadeiramente dharma . Se uma pessoa pode se
livrar sem proferir um único som, então nenhum som deve ser proferido. Ou, dever-seia
necessariamente proferir um som caso os assaltantes suspeitem do silêncio. Nesta
situação, é considerado melhor falar uma mentira a falar a verdade. Aquele que assim
age é eximido dos pecados de cometer um perjúrio.”

Aqui Bhishma repete os pontos básicos da filosofia moral Védica ensinada pelo próprio
Krishna:
1. Para entender o que é comportamento moral, não podemos, em cada caso,
simplesmente citar as regras morais das escrituras.
2. Deve-se também raciocinar sobre moralidade.
3. Em tal raciocínio, deve-se levar em consideração que todo o propósito dos
princípios morais é beneficiar as pessoas.
4. Às vezes, pessoas boas, externamente, praticam más ações.
5. Às vezes, pessoas más, externamente, praticam boas ações.
6. Em tais casos, deve-se olhar para além das aparências para ver o que
realmente produz boas conseqüências.

TENSÃO ENTRE SOCIEDADE E INDIVÍDUO
Ao avaliar as boas e as más conseqüências de um ato, deve-se considerar tanto o
indivíduo quanto a sociedade. Há uma tensão natural, e equilíbrio, na vida humana entre
liberdade individual e responsabilidade social. Srila Prabhupada insistiu para todos nós
trabalharmos cooperativamente dentro da ISKCON, e ao mesmo tempo ele lutava contra
a centralização e a burocratização precisamente porque elas reprimem a liberdade
individual, inspiração e criatividade, tudo o que é essencial na vida espiritual.
Prabhupada assim escreve em seu significado ao Bhagavatam 1.6.37,
"Todo ser vivo está ansioso por completa liberdade porque esta é sua natureza
transcendental. ...Uma alma autônoma e plenamente capaz de voar como Narada,
sempre ocupada em cantar as glórias do Senhor, é livre para movimentar-se não apenas
na Terra, como também em qualquer parte do universo, bem como em qualquer parte do
céu espiritual... De modo semelhante,... em todas as esferas do serviço devocional, a
liberdade é o pivô principal. Sem liberdade não há execução de serviço devocional. A
liberdade rendida ao Senhor não significa que o devoto torna-se dependente sob todos
os aspectos. Render-se ao Senhor através do meio transparente do mestre espiritual é
alcançar a completa liberdade da vida.”

No entanto, temos irrevogáveis obrigações para com a sociedade, especialmente
para com a sociedade espiritual criada por Srila Prabhupada. Em geral, quando se
decide não viver solitário, mas sim viver dentro da sociedade e assim desfrutar os
benefícios que a sociedade oferece, entra-se em um tipo de contrato social e se paga um
preço pelos benefícios que se recebe. Para viver dentro da sociedade, e desfrutar de suas
oportunidades e benefícios, se sacrifica a liberdade irrestrita da vida fora da sociedade.
O indivíduo dentro da sociedade aprende que tudo que é natural para um indivíduo pode
não ser natural para a sociedade. E o que é inatural para um indivíduo pode não ser
inatural para a sociedade.
Porque devemos depender da sociedade, mesmo enquanto ansiamos por
liberdade, haverá sempre algum nível de tensão entre os desejos e expectativas
individuais e os desejos e necessidades da sociedade na qual o indivíduo vive. Uma
sociedade consciente de Krishna deveria buscar um equilíbrio saudável entre as
necessidades sociais e individuais, para que tanto o indivíduo, quanto a sociedade,
possam alcançar seus objetivos sem prejudicar significativamente o outro.
Sobre este ponto, retornemos a nossa discussão sobre a tensão entre o ideal e o
real dentro do contexto do indivíduo e da sociedade. Por um lado, uma sociedade
consciente de Krishna deve preservar ideais espirituais eternos: o objetivo de cada vida
é aproximar-se de Krishna, o Senhor Supremo. Cada corpo humano pertence a Krishna
e deveria ser usado exclusivamente a Seu serviço de acordo com o sanatana dharma, os
princípios espirituais eternos estabelecidos pelo próprio Senhor. Uma sociedade
consciente de Krishna elogia e critica, recompensa e pune, encoraja e desencoraja o
comportamento de seus membros a medida que tal comportamento mantém ou viola os
ideais da sociedade.
Por outro lado, toda sociedade funcional deve criar espaço cultural e social para
os membros sinceros que, inevitavelmente, lutam com a realidade extremamente
imperfeita da vida condicionada. A sociedade deve compreender que pessoas boas e
sinceras muitas vezes falham em cumprir os ideais da sociedade e que a sociedade, em
última análise, existe para encorajar e facilitar a luta da alma por consciência de Krsna.
Para ser prático, a sociedade deve ainda distinguir entre comportamento público
e privado, reforçar padrões mais elevados para o primeiro, enquanto responde ao último
sempre que tal resposta for apropriada, relevante e necessária. Uma sociedade
consciente de Krishna deve levar em consideração que as almas condicionadas seguem
os ideais espirituais apenas parcialmente e imperfeitamente. Portanto, para aqueles não são muito avançados na vida espiritual, o progresso em direção ao ideal freqüentemente
envolve concessões avaliadas de acordo com os impulsos irreprimíveis e necessidades
do corpo material.
O indivíduo também não deve tomar a sociedade por padrões impossíveis, ideais. Assim como o indivíduo geralmente falhará em cumprir os ideais da sociedade, da mesma forma, a sociedade muitas vezes falhará em cumprir as expectativas do indivíduo em relação a ela. Deste modo, uma sociedade intolerante deve, em última análise, tornar-se ela mesma uma vítima da intolerância de seus membros para com as inevitáveis falhas desta mesma sociedade.

ESCRITURAS E HOMOSSEXUALIDADE
Anteriormente, ouvimos a declaração do Senhor Krishna no Mahabharata que:
“É difícil alcançar o mais elevado entendimento [da moralidade]. Verifica-se isso pelo raciocínio. Nessas circunstâncias, há muitas pessoas que simplesmente alegam que ‘a moralidade é escritura’. Embora Eu não Me oponha a essa visão, as escrituras não oferecem regras para todo caso”.

Assim, ao tentar entender como a ISKCON deveria lidar com a homossexualidade, devemos primeiro fazer esta pergunta:

Fornecem as escrituras védicas vaishnavas regras específicas e explicitamente não-ambíguas para lidar com a homossexualidade, ou, se não, devemos chegar a uma conclusão através de nossa própria maneira de raciocinar? Srila Prabhupada ensinou que devemos entender a ciência espiritual através de guru, sadhu e shastra, “o prórprio guru, outras pessoas santas e as escrituras reveladas”.

Srila Prabhupada também ensinou incessantemente que sua própria qualificação fundamental, e de fato a qualificação de qualquer guru fidedigno, é sempre repetir fielmente os ensinamentos de Krishna como são encontrados nas escrituras reveladas. Deste modo, devemos pesquisar nas mais importantes escrituras vaishnavas apresentadas por Srila Prabhupada, o Bhagavad-Gita e o Srimad-Bhagavatam, por declarações escriturais específicas, explícitas e não-ambíguas sobre homossexualidade.

O resultado? Não há nenhuma. Notavelmente, nem o Gita, tampouco o Bhagavatam, dão uma única referência explícita à homossexualidade mutuamente consensual. Encontramos, é claro, no Bhagavatam, 3.20.23-37, a bem conhecida história em que Brahma cria os demônios masculinos, que, em seguida, tentam aproximar-se dele para fazer sexo. Brahma escapa dos demônios abandonando o corpo ao controle de Vishnu. Prabhupada comenta em seu significado ao 3.20.26:

“Aqui subentende-se que o apetite homossexual de um macho por outro surgiu neste episódio da criação dos demônios por Brahma.” Podemos observar os seguintes pontos a respeito dessa história do Bhagavatam:

1. A história não descreve homossexualidade mutuamente consensual, uma vez
que Brahma evitou os demônios luxuriosos.
2. A história não dá nenhuma regra, injunção ou proibição a respeito da
homossexualidade. Na verdade, a exata palavra homossexualidade não aparece
no Bhagavatam.
3. Não está claro, a partir da história original do Bhagavatam, que os demônios
eram verdadeiramente homossexuais. Explicarei esse último ponto em mais
detalhes.

Através de um estudo minucioso dessa história, encontramos que, na verdade, os
demônios que se aproximaram de Brahma eram, no máximo, bissexuais, e que mesmo
essa bissexualidade é bastante ambígua. Primeiramente resumirei a história básica para,
em seguida, discutir suas complexidades.
Esta é a história básica:

1. De suas nádegas, Brahma cria seres “malignos” muito luxuriosos que se aproximam dele para fazer sexo.
2. Brahma fica inicialmente entretido, depois furioso e por fim aterrorizado. À medida que os demônios desavergonhados perseguem-no, ele foge.
3. Brahma toma abrigo de Vishnu e roga ao Senhor que o proteja.
4. Vishnu vê a condição infame de Brahma e ordena-o a abandonar seu corpo “terrível”.
5. Brahma abandona seu corpo. Os demônios vêm o corpo como uma mulher deslumbrante. Completamente encantados, eles aproximam-se do “sexo feminino” e tentam obter seu favor.
6. Os demônios então tomam o crepúsculo por uma bela mulher e, com luxúria e desordem, apoderam-se dela.

É importante levar em consideração que este incidente ocorre dentro de uma narração padrão da criação, na qual Brahma cria vários tipos de seres, e então dá, para cada um, um de seus corpos. Os malignos demônios que perseguiram Brahma para fazer sexo estavam aparentemente atraídos pela parte específica de seu corpo que manifesta beleza feminina. Tanto no próprio texto do Bhagavatam quanto nos comentários dos grandes Acaryas, encontramos evidências de que estes demônios eram na verdade luxuriosos por mulheres:

a) em seus comentários a este incidente, três grandes comentadores –
Sridhara Swami, Vira Raghavacarya e Visvanatha Cakravarti Thakur, todos descrevem estes demônios como stri-lampata, “luxuriosos por mulheres”. Deste modo, quando o Bhagavatam primeiro menciona este incidente e descreve os demônios como atilolupan, “excessivamente luxuriosos,” Sridhara Swami declara que esta luxúria era por mulheres.
b) O próprio Vishnu, no 3.20.28, ordena Brahma a abandonar seu “terrível corpo”. [16] Sridhara Swami explica que o corpo de Brahma era “terrível”, ghoram, porque era contaminado pela luxúria”. O Acarya Vira Raghava concorda que o corpo de Brahma era terrível porque era a forma da “luxúria excessiva”.
c) Sridhara Swami também explica em seu comentário ao 3.20.28 que “em todos os casos, abandonar um corpo significa dizer, abandonar uma disposição mental particular. Portanto, deve-se perceber que a palavra ca, “e” [indica neste verso] que Brahma teve que retificar cada uma destas condições mentais.”
d) o Bhagavatam também declara no 3.20.31 que, ao ver o corpo abandonado por Brahma na forma de um bela mulher, “todos os demônios ficaram completamente encantados.”

Em conclusão, não há dúvida de que todos os malignos demônios criados por Brahma sentiam extrema luxúria por mulheres. Surge uma questão sobre se eles aproximaram-se de Brahma de um modo diretamente homossexual, ou se eles estavam atraídos pelo aspecto feminino do corpo cósmico de Brahma, uma vez que Brahma abandonou para eles um corpo na forma de uma bela mulher. Levando em consideração que o próprio Bhagavatam declara no 3.20.53 que Brahma deu-lhes uma “parte”, amsha, de seu corpo, e que Sridhara Swami declara que esta parte era, na verdade, um aspecto da disposição mental de Brahma, especificamente a disposição de luxúria. Deste modo, de acordo com o Bhagavatam e Sridhara Swami, os demônios lançaram-se luxuriosamente em direção a Brahma, que parecia ter-lhes dado o que queriam: uma bela mulher. Portanto, está claro que os demônios tinham um forte apetite heterossexual, bem como uma atração ambígua pelo aspecto feminino luxurioso do Senhor Brahma. Portanto, essa história não fornece uma consideração clara e não-ambígua sobre a homossexualidade, nem nenhuma regra para lidar com isto.

Encontramos um tipo de irregularidade de gênero na vida do Rei Sudyumna, a qual é narrada no Bhagavatam, nono canto. Aqui está a história básica:

Ao entrar na floresta do Senhor Siva, o Rei Sudyumna é imediatamente transformado em uma mulher, que então se casa com um homem e gera uma criança com ele. O guru de Sudyumna, Vasistha Muni, roga então ao Senhor Siva para transformar Sudyumna novamente em um homem. Siva concede que o rei se torne um homem e governe seu reino mês sim mês não, mas que, mês sim mês não, ele permanecerá uma mulher casada.

É significante que os cidadãos de Sudyumna não aprovaram ou receberam bem este arranjo. O Bhagavatam declara: nabhyanandan sma tam prajah.
O verbo sânscrito abhi-nand significa “dar boas vindas, aprovar, aplaudir, reconhecer etc.”. Portanto, os cidadãos não receberam bem, aprovaram, reconheceram, aplaudiram etc. seu rei que, mês sim mês não, tornava-se uma mulher.
Além disto, parece que o próprio Rei Sudyumna estava envergonhado por causa de sua mudança mensal de gênero. Tanto Sridhara Swami quanto Vira Raghavacarya comentam que todo mês o rei escondia sua situação (da mudança de seu gênero) por vergonha. Visvanatha Cakravarti Thakura concorda que o rei escondia sua situação.

Claramente o rei não era homossexual no sentido moderno. Mas esta história demonstra um importante fato sobre a psicologia humana: as pessoas em geral não recebem bem ou aplaudem a irregularidade de gênero. Embora esta história, como a anterior, não apresente uma descrição explícita e não-ambígua da homossexualidade, nem ofereça qualquer regra ou conduta em relação a isto, lembre que Prabhupada declara em seu significado ao Bhagavatam 3.20.26:

“Aqui subentende-se que o apetite homossexual de um macho por outro surgiu neste episódio da criação dos demônios por Brahma.”
Muito embora seja dito que a homossexualidade tenha existido desde o início da criação, o Bhagavatam não a descreve explicitamente nem a condena. Portanto, de acordo com a própria declaração de Krishna [MB 8.49.49], uma vez que não encontramos um estabelecimento de regras específicas, explícitas e não-ambíguas para a conduta em relação à homossexualidade, devemos nos empenhar em um raciocínio espiritual sobre isto.

RACIOCÍNIO MORAL ACERCA DA HOMOSSEXUALIDADE
É um princípio básico da consciência de Krsna que este mundo material é um reflexo pervertido do mundo espiritual eterno. Nossos corpos materiais são sombras ou reflexos de nossos corpos eternos e espirituais. E Krishna, Ele próprio, é a Pessoa Suprema com um corpo supremo eterno. Textos sagrados como o Srimad-Bhagavatam e o Bhagavad-Gita revelam em detalhes a natureza, comportamento e atividades do Supremo Senhor Krishna, e, deste modo, nós possuímos um padrão objetivo absoluto diante do qual podemos medir nosso próprio comportamento. Isto é especialmente verdadeiro porque não temos apenas informação das atividades de Krishna no mundo espiritual, mas também sabemos de Suas atividades neste mundo material, onde Ele desce como um avatara para demonstrar dharma, comportamento apropriado, por meio de Sua própria vida na terra e através das vidas de Seus devotos puros que O auxiliam.

Desse modo, podemos dizer que o padrão absoluto, objetivo e eterno para relacionamentos conjugais é que tal relacionamento deveria desenvolver-se entre um homem e uma mulher que possuam, respectivamente, qualidades masculinas e femininas tanto no corpo quanto na mente. Além disto, tal relacionamento conjugal deve ser dedicado ao transcendental serviço devocional e deve em última análise visar ao amor espiritual puro, livre de luxúria material.

Neste mundo, encontramos algum nível de impureza em quase todo relacionamento conjugal. Entretanto, a união apropriada entre homem e mulher, em corpo e mente, mesmo neste mundo imperfeito é, em um sentido, um reflexo mais próximo do padrão eterno do que aquele que encontramos em sexualidades irregulares que não refletem padrões absolutos.

O Senhor Krishna declara no Bhagavad-Gita 7.11, que Ele está presente na sexualidade que não se opõe ao dharma. Srila Prabhupada ensina que o sexo é, em última análise, destinado à procriação devotada ao serviço a Deus. Mesmo se a maioria dos devotos grhastas lutam com este padrão e, na prática, restringem-se à versão mais fácil da regra – não praticar sexo fora do casamento – o padrão mais elevado ainda é o ideal ao qual todos os devotos sérios deveriam aspirar. O fato de muitos ou mesmo a maioria dos grhasthas acharem difícil agir sempre na plataforma ideal não invalida de modo algum, nem mesmo diminui, o valor do ideal.

Um exemplo mundano serve para ilustrar este ponto: porque a sociedade americana, mesmo em face da disseminada hipocrisia, preservou o ideal de igualdade social e legal, o movimento dos Direitos Civis Americanos (American Civil Rights movement) foi capaz de apelar a este ideal na busca por justiça racial. Similarmente, é essencial para o progresso de seus membros que a ISKCON preserve o ideal espiritual de sexo para procriação entre um homem e uma mulher adequados, que estejam unidos pelos votos sagrados do matrimônio.

Mas como a ISKCON deveria lidar com a homossexualidade? Consideremos o assunto à luz da filosofia moral vaishnava, enfocando as diversas tensões morais que devem ser equilibradas.

CONCLUSÃO
A justiça dita que as almas rendam-se a Deus, abandonando todos os pecados. A misericórdia dita paciência e compreensão. Em última análise, devemos fazer o que é melhor para o devoto individual e para a sociedade de devotos. Embora que, até certo ponto, haja tensão entre os desejos e necessidades da sociedade e aqueles do indivíduo, devemos, em última análise, descobrir um modo de encorajar e inspirar os devotos individuais com dificuldades especiais e, ao mesmo tempo, manter a santidade do padrão dos princípios morais e espirituais. A ISKCON deve equilibrar justiça e misericórdia, o ideal e o real. A ISKCON deve defender a importância dos atos morais, mas a ISKCON deve também fazer aquilo que produzirá conseqüências benéficas.

Prabhupada enfatiza que a consciência de Krsna é um processo gradual. Ele ensinou isto, literalmente, centenas de vezes. Aqui estão duas provas tiradas de centenas de declarações que ele fez sobre este assunto:

“Todos devem purificar o coração por um processo gradual, não abruptamente” [Bg 3.35, Significado].

“Portanto, cabe ao governo encarregar-se de treinar todos os cidadãos de maneira tal que, através de um processo gradual, elevem-se à plataforma espiritual e compreendam o eu e que relação tem com Deus” [Bhag 6.2.3 Significado].

Levemos em consideração o que a palavra “gradual”* realmente significa. Aqui estão algumas definições de dicionários padrão:

Gradual: “prosseguimento ou desenvolvimento lento por passos ou níveis; prosseguimento em pequenos estágios; movimento, mudança ou desenvolvimento através de níveis delicados ou muitas vezes imperceptíveis; mudança lenta”.

Algumas pessoas acham que encorajar a monogamia gay é encorajar a homossexualidade. Para testar este argumento, apliquemo-lo a uma outra atividade pecaminosa: abuso de drogas.

De fato, há muitos vaishnavas sinceros ao redor do mundo que lutam contra alguma forma de abuso de substância. Se a ISKCON seguir o exemplo de outras religiões e oferecer programas para ajudar membros fiéis a superar tais problemas, e se os devotos recuperados são elogiados e encorajados quando reduzem seu uso de drogas, isto significa que a ISKCON está encorajando, admitindo ou justificando o uso de drogas? Obviamente que não.

Similarmente, encorajar devotos que estão lutando para regular, reduzir e eliminar a sexualidade pecaminosa de qualquer espécie não é elogiar ou encorajar atividades pecaminosas. A verdade é o oposto: nós estamos elogiando e encorajando a redução e a eliminação gradual de tais atividades.

No caso de um casal de devotos grhasthas, o sexo dentro do casamento, mas não destinado à procriação, é claramente pecaminoso, pelo menos num senso estrito. Embora algumas vezes os devotos declarem que “não praticar sexo ilícito” significa “não praticar sexo fora do casamento”, na verdade este é o padrão que muitos respeitados grhasthas são capazes de seguir. Por que então nós admitimos um ato sexual o qual é, no senso mais estrito, pecaminoso? Certamente porque este é o menor de dois males, o maior mal sendo o sexo fora do casamento.

Surge então a questão: a diretriz de escolher dos males o menor é valida somente para heterossexuais, ou esta é também uma estratégia necessária para homossexuais? Leve em consideração que Prabhupada enfatiza que a consciência de Krsna é um processo gradual, é um processo que prossegue lentamente, passo a passo. A noção de um processo gradual logicamente acarreta a noção ulterior de que os passos graduais na direção certa são apenas isto: passos na direção certa. E, uma sociedade espiritual deve encorajar todos seus membros a darem passos na direção certa.

Finalmente, devemos levar em consideração o princípio moral último, encontrado no Padma Purana e citado no Sri Caitanya Caritamrta 2.22.113:

“Vishnu deve ser sempre lembrado e jamais esquecido. Todas as injunções e proibições só podem ser servas dessas duas”.

Srila Prabhupada escreve em seu significado a este verso: “Existem muitos princípios regulativos nos shastras e muitas orientações dadas pelo mestre espiritual. Esses princípios reguladores devem agir como servos do princípio básico – isto é, devemos sempre lembrar-nos de Krishna e jamais esquecê-Lo”.

Similarmente, o próprio Senhor Krishna declara no final do Gita, 18.66:

“Abandone todos os princípios morais/ religiosos e venha a Mim exclusivamente por abrigo. Eu te protegerei de todas as reações pecaminosas. Não temas!”.

Portanto, considerando a filosofia moral vaishnava, como ensinada pelo próprio Krishna e por Seus devotos puros, a ISKCON deve encorajar os devotos sinceros que, às vezes, de boa fé e dentro de limites racionais, escolhem dos males o menor a fim de se estabilizarem no caminho espiritual. Este princípio aplica-se a sexualidade humana mutuamente consentida entre adultos.

Nota de Tradução:
Acaryadeva traduziu alguns versos das escrituras, presentes neste artigo, de forma um pouco diferenciada do original em inglês de Srila Prabhupada. Neste caso, traduzi a versão de Acaryadeva como consta em seu artigo original em inglês. Os versos e comentários citados, que estão iguais ao original inglês de Srila Prabhupada, transcrevi a tradução feita pela BBT Brasil, mantendo os resumos, pequenas alterações e cortes feitos por Acaryadeva em seu artigo original em inglês.

Ser Vaisnava! Um guia de comportamento Vaisnava

A Essência:
O estilo de vida de um devoto deve confirmar o princípio de “vida simples, pensamento elevado”.
Existem muitas regras e regulações orientando o estilo de vida do devoto, porém o propósito de todos eles é nos ajudar a “Sempre lembrar de Kèñëa e nunca se esquecer de dEle”.
As regras não existem na verdade pra cortar nosso “barato” e sim para nos ajudar a chegar de forma segura em nossa meta, assim como em uma viagem temos que respeitar as leis de transito para chegarmos seguros e confortáveis. Da mesma forma temos que seguir algumas regras de conduta e etiqueta.
O ponto não é deixar de agir e sim fazer um pequeno ajuste em nossas vidas.
Princípios e etiquetas formam na verdade uma orientação para adquirirmos qualidades de conduta. Vemos no Bhagavad Gétä que tudo que faz parte das qualidades adquiridas por um Vaiñëava é considerado conhecimento.
“Humildade, modéstia, não-violência, tolerância, simplicidade, aproximar-se de um mestre espiritual autêntico, limpeza, firmeza, autocontrole; a percepção segundo a qual o nascimento, a morte, a velhice e a doença são condições desfavoráveis; desapego; estar livre de enredamento com filhos, esposa, lar e o resto; equanimidade diante de condições agradáveis e desagradáveis; devoção constante e imaculada a Mim; aspirar a viver num lugar solitário; afastar-se da massa geral de pessoas; aceitar a importância da auto-realização; e empreender uma busca filosófica da verdade absoluta – declaro que tudo isso é conhecimento, e algo diferente disto é ignorância.”
(BG, 13.8-12)
As qualidades são adquiridas por métodos e práticas e todas as práticas têm regras a se seguir, o que muitas vezes remete a dogmas ou taxações na verdade são para melhor nos situarmos no conhecimento, por essa razão devemos entender o porque seguir e seguir com determinação. Isso pode nos garantir o verdadeiro sucesso de nossas vidas, o retorno a nossa posição original. Essas práticas devem ser seguidas com muito entusiasmo e compreensão, como Prabhupäda explica no significado para o verso 3 do Upadesamrita; “O serviço devocional não se trata de especulação sentimental ou êxtase imaginativo. Sua essência é atividade prática... Devemos aceitar com muito entusiasmo esta oportunidade de voltar ao lar, de volta ao Supremo. Sem entusiasmo, não se pode ter êxito...”


Como se comportar dentro do Templo

Nosso comportamento no templo deve ser conduzido de forma muito séria, pois a sala do templo é a sala de visitas do Senhor Supremo, é o local em que Ele recebe seus convidados. Devemos, portanto, saber nos comportar.
Observar detalhes como, saber falar, ser reverente, ser humilde, comportado, limpo, entre outras coisas são tão importantes que também devemos transmiti-los para aqueles que não conhecem a filosofia, claro que de forma agradável e cortês.
Os pais devem tentar passar esse conceito para seus filhos, pois o templo é um lugar sagrado e não um lugar de recreação. Nunca devemos desenvolver a mentalidade que a sala do templo é um lugar qualquer e de importância igual a um salão de festas.
Devemos seguir as regras para entendemos a supremacia do Senhor Supremo.



Ser Humilde.
Nos velhos tempos os reis viajavam em palanquins e mostravam sua opulência com suas vestes e calçados. Para demonstrar nossa humildade e nos livrar do sentimento de posse e poder, ou da idéia de sermos controladores, não entramos no templo em carros ou calçando sapatos. Também como uma forma de higiene, pois a rua é muito suja.
Humildade é um principio e uma qualidade ímpar, Caitanya Mahaprabhu em seu Sikshastaka coloca como algo fundamental para podermos sempre cantar os santos nomes do Senhor.
“Deve-se cantar o Santo Nome do Senhor num estado de espírito humilde, julgando-se inferior a uma palha seca na rua; deve-se ser mais tolerante que uma árvore; desprovido de todo sentimento de falso prestígio; sempre estar disposto a oferecer respeito aos outros. Neste estado de espírito pode-se cantar os Santos Nomes do Senhor constantemente”
(Sri Siksastaka, verso 3)



Oferecer reverências
A cabeça é um dos órgãos mais importantes do corpo, e é ela que simboliza a residência da inteligência ou conhecimento. Por outro lado, o pé é a parte inferior e colocar a cabeça no chão significa colocar também a cabeça abaixo do coração, como símbolo humilde de que a devoção e o amor, superam a razão ou inteligência material.
Como uma forma de respeito e relacionamento com os devotos ao entrar no templo pela primeira vez, deve-se seguir todo um padrão de oferecimento de reverencias, durante o restante do dia ao se entrar no templo basdta oferecer reverencias ao mestre espiritual ne frente das deidades.
Ao entrar pela primeira vez no templo deve-se primeiro oferecer reverências aos devotos reunidos e pronunciar a oração:
vancha kalpa taru bhyas ca
krpa-sindhubhya eva ca
patitanam pavanebhyo
vaisnavebhyo namo namah


“Ofereço minhas respeitosas reverências a todos os devotos vaishnavas do Senhor. Eles são exatamente como árvores-dos-desejos, que podem satisfazer os anseios de todo o mundo, e são cheios de compaixão pelas almas condicionadas caídas.”
Depois se devem oferecer reverências a Prabhupada e, mantendo-o à nossa esquerda, cantar o pranama do seu guru e em seguida o de Prabhupada. No caso dos homens, dandavats completos. No caso das mulheres observar se não vai ficar de costas para outros devotos ou homens.
Nama om visnu-padaya krsna-presthaya bhu-taleSrimate bhaktivedanta-svamin iti namine
Ofereço minhas respeitosas reverências a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, que é muito querido ao senhor Krishna, por ter se refugiado aos Seus pés de lótus.

Depois disso, deve-se então ir até as deidades e oferecer plenas reverências prostradas, mantendo as deidades no nosso lado esquerdo e cantando o Guru pranama mantra.
Devemos nos lembrar de que não devemos oferecer reverências com uma só mão. Ambas as mãos devem estar apoiando o nosso corpo ao chão enquanto nos curvamos e ambas devem estar esticadas.

Pontualidade

Quando marcamos um compromisso com alguém é de uma indelicadeza sem tamanho chegarmos atrasados. Isso é motivo para que um candidato a emprego perca a vaga. Os darshanas das deidades são em horários específicos - o momento em que sempre depois de se trocarem estão prontas pra nos ver - e constitui indelicadeza muito grande nos atrasarmos para os darshanas das deidades, quando alguém muito importante está pronto para nos ver.
Isso deve ser evitado, salvo se existe um compromisso do interesse das próprias deidades.




Falar

Na frente das Deidades não se deve:
- Falar alto
- Brigar;
- Punir alguém;
- Se dirigir duramente e de maneira agressiva a uma pessoa;
-Louvar outra pessoa;
- Falar nomes feios;
- Criticar semideuses;
- Entregar-se a prajalpa, ou conversas mundanas;
- Contar mentiras.
Pode-se falar na frente das Deidades com convidados ou devotos se isso ajudar na pregação ou aumentar a consciência de Krishna deles, porém todas as conversas devem ser conduzidas fora do templo.

Honrar Prasadam
Deve-se beber Charanamrta (água extraída do banho diário das Deidades).
Deve-se provar a Maha-Prasadam do Senhor, mas não se deve comer na frente das Deidades.

Vestimenta e aparência
“Cobrir a parte inferior do corpo é um princípio de civilizaçäo humana, e quando um homem ou uma mulher esquecem desse princípio, tornam-se degradados”. (Krishna book, "Salvaçäo de Nalakuvera e Manigriva")

A roupa de um devoto deve ser:
- Simples
- Limpa
- Casta
Distintiva de maneira especial, que faça com que as pessoas lembrem de Krishna
Os monges devem se vestir da seguinte maneira:
Homens: Dhoti e Kurta.


Mulheres: Sari (cabeça deve ser coberta, de preferência, na presença das Deidades e de sannyasis)
Outras roupas devem ser evitadas, exceto em circunstâncias forçosas, ou se definitivamente for necessário para a pregação ou serviços.
Para ambos, homens e mulheres, as roupas devem ser simples e castas, e não da moda e opulentas. Entretanto, as roupas devem ser bem cuidadas e apresentáveis. Artigos desnecessários tais como cosméticos e maquiagem excessivas devem ser evitados. A simplicidade na vestimenta é muito importante para um Vaishnava, seja dentro ou fora do templo.
Particularmente para os programas matinais e para todos os programas do templo em geral, devem-se usar as roupas limpas, evitando as roupas do dia anterior.
Membros da congregação devem se preocupar em vir ao templo com um padrão de roupas adequado, sempre usando roupas limpas e castas e que nos faça ter uma idéia de modo da bondade.
O Senhor Caitanya disse que um vaishnava é aquele que, quando visto, nos lembra de Krishna. Logo, todos os devotos devem ser muito cuidadosos com seus vestuários e decorações. Os vaisnavas são decorados geralmente com tilaka e kanthi mala e mesmo assim devem-se seguir alguns padrões:
Tilaka - Deve-se sempre decorar o corpo com Tilaka em doze partes específicas do corpo, sempre após o banho. Prabhupada explica no Srimad-Bhagavatam.

“Em Kali-yuga quase näo conseguimos adquirir ornamentos de ouro ou jóias, porém as doze marcas de tilaka no corpo säo suficientes como decoraçöes auspiciosas para purificar o corpo.” (Bhag. 4.12.28)

Os devotos devem em todos os momentos usar tilaka, Prabhupada em uma carta escreve: “Quanto à vestimenta, isso é imaterial. Mas como soldado você sabe que todo soldado tem um uniforme segundo a etiqueta ou regra do exército. Portanto, o exército de consciência de Krishna tem que ter pelo menos a tilaka na testa em todas condições. Para seus negócios pode usar seu uniforme naval de serviço; semelhantemente, se tiver uma tilaka na testa como soldado da consciência de Krishna, nõo deve ter tanta objeção, pois é essencial.” (carta de Srila Prabhupada, 3 de agosto 1969).

Uma pessoa que não está seguindo os princípios regulativos não deve usar tilaka, especialmente fora do templo.
Cabelo-
Homens: Bramacharis e sannyasis têm que raspar suas cabeças uma vez por semana e manter shikha. Grihasthas poderão fazer o mesmo. Contudo, conforme o serviço deles, poderão manter os cabelos curtos e arrumados, e se possível uma pequena shikha.
Embora parece que não há injunções shástricas com relação ao tamanho da sikha, os Gaudiya Vaisnavas tradicionalmente mantem suas sikhas mais ou menos do tamanho da pegada de um bezerro, aproximadamente 5 ou 6 cm de diâmetro. Srila Prabhupada mencionou isso numa conversa com alguns de seus discípulos no Havaí: "A sikha dos Gaudiya Vaisnavas mede uma polegada e meia na largura - mais näo. Sikha maior significa outra sampradaya... E elas precisam ser amarradas."
(6 de maio, 1972, Havaí; Srila Prabhupada Lilamrita V, pág. 93)

Mulheres: É preferível para as mulheres manter os cabelos tradicionalmente compridos, partido ao meio devem fazer tranças ou amarrá-los, evitando modas.
Kanthi Mala - Todos os devotos que são iniciados devem usar kanthi mala de pelo menos duas ou três voltas. A kanthi deve ficar em torno da base da garganta e ser claramente visível.
E devotos que não são iniciados, mas que estejam seguindo os princípios regulativos durante um tempo e que desejam também tomar dhiksa, devem também usar uma kanthi mala.
Devotos que não estão seguindo os princípios básicos, especialmente o cantar dos santos nomes e os quatro princípios regulativos, não devem usar kanthi mala. Falando estritamente, uma vez que o kanthi mala foi usado, mesmo cebola e alho não devem passar pela garganta.
Portanto, devem-se avisar os devotos novos sobre isso.

Limpeza e Higiene

“Pela manhã o devoto deve regularmente escovar seus dentes, tomar banho, oferecer oraçöes ao Senhor, e oferecer reverências ao mestre espiritual. Deve prestar serviço ao mestre espiritual e pintar seu corpo em doze locais com urdhva-pundra (tilaka). Deve carimbar os sagrados nomes do Senhor em seu corpo, ou deve carimbar os símbolos do Senhor, tais como o disco e a maça. Depois disso, deverás descrever como o devoto deve decorar seu corpo com gopi-candana, usar contas ao redor do pescoço, colher folhas da árvore tulasi, lavar sua vestimenta e o altar, limpar sua própria casa ou apartamento, e ir ao templo e tocar o sino para chamar a atenção do Senhor Krishna.” (C.c.Madhya 24.332-3)

Isso indica que desde o inicio de nosso dia devemos nos preocupar com nossa higiene, não paenas corpóreas mas mental.

A meta de todos estes procedimentos ou regras de higiene e limpeza tais como, lavar a boca e o corpo, amarrar a sikha, tomar banho, vestir-se e decorar o corpo, é para minimizar a influência tamásica do sono, além de que é necessário à saúde, traz tanto de impureza física como mental. Eseas não são rituais ou regras só para que haja regras (smarta no sentido negativo), mas são funcionais para todos seres humanos.

Em todas as cinrcustâncias devemos usar roupas limpas principalmente no templo.
Deve-se entrar no templo com as mãos e os pés sempre limpos.
Deve-se tomar banho após evacuar e somente depois disso entrar no templo.
Não se deve entrar no templo após ter visitado um cemitério ou crematório ou tocar num corpo morto. Deve-se primeiro tomar o devido banho para então entrar no templo.
Não se devem emitir gases ou arrotos dentro do templo.
Deve-se evitar colocar os dedos na boca, ouvido ou nariz enquanto dentro do templo. Quando se é obrigado fazê-lo (mesmo fora do templo), as mãos devem ser lavadas imediatamente depois.

Manipulando Artigos Sagrados
Livros, contas, kartalas, etc. não devem ser mantidos no chão ou em lugares não limpos e devem ser respeitados como parafernália adorável.
Não se deve tocar com os pés qualquer coisa sagrada ou usar os pés para fazer o que poderia ser feito com as mãos.
Caso um objeto sagrado cair no chão devemos rapidamente apanhá-lo e tocá-lo em nossa cabeça.
Não se deve passar por cima de livros, devotos, prasadam, flores que foram oferecidas ao Senhor ou quaisquer artigos sagrados.
Todos os artigos sagrados devem ser mantidos em lugar limpo, arrumado e cuidadosamente entregues de pessoa para pessoa.
Artigos sagrados tais como contas, livros, etc. não devem ser levados para dentro do banheiro.
Deve-se ter cuidado ao manusear o retrato do Guru e de Krishna. Eles devem ser manipulados com grande cuidado e respeito.
Uma menção especial ao Hari-nam chaddars (mantos com o Santo nome). Como o santo nome foi impresso no pano, este é um objeto sagrado e não deve tocar no chão.
Deve-se ter cuidado ao oferecer reverências para que o saco de contas em nossa mão não toque o chão. Poderá ser mantido de lado antes de oferecer reverências.
Deve-se ter muito cuidado ao lidar com a parafernália das Deidades, como roupas, jóias, vasilhas, etc. Por exemplo, roupas e toalhas devem ser bem dobradas e guardadas. As vasilhas devem ser colocadas em devidos locais e assim por diante.
Caso se toque com a mão no chão ou qualquer coisa não limpa, deve-se lavar as mãos antes de tocar novamente na parafernália da Deidade. Krishna não é diferente de Sua parafernália e tratá-la mal significa tratar Krishna mal. Verdadeira bhakti então não irá aparecer em nossos corações. Temos que estar conscientes em todas as ocasiões de que todos estes diferentes artigos não são peças comuns, mas para serem usadas a serviço de Krishna, sendo portanto adoráveis.
Hábitos Pessoais
Quem for sério a respeito da vida espiritual deve levantar-se cedinho de manhã, de preferência antes do horário Brahma-muhurta, i.e. uma hora e meia antes do sol nascer. É dito no Srimad-Bhagavatam 3.20.46 (siginificado): O horário cedo de manhã, uma e meia hora antes do nascer do sol, chama-se Brahma-muhurta. Durante este Brahma-muhurta, são recomendadas atividades espirituais. Atividades espirituais realizadas cedo pela manhã tem um maior efeito do que em qualquer outra hora do dia.
O próprio Senhor Krishna deu esse exemplo.
“O Senhor Krishna Se levantava imediatamente da cama exatamente ao entrar o brahma-muhurta... Depois de levantar-Se da cama, o Senhor Krishna lavava Sua boca, mãos e pés e imediatamente Se sentava e meditava em Si mesmo. Isto não significa, entretanto, que também devemos sentar-nos e meditar em nós mesmos. Temos que meditar em Krishna, Radha-Krishna. Isto é verdadeira meditação... Depois de Sua meditação, o Senhor regularmente Se banhava cedinho pela manhã com água clara, santificada. Então Ele trocava de roupa para vestes limpas, Se cobria com um manto, e então Se ocupava em Suas funções religiosas diárias. Dentre Seus muitos deveres religiosos, o primeiro era oferecer oferendas no fogo sacrificial e silenciosamente cantar o Gayatri mantra. O Senhor Krishna, como chefe-de-família ideal, executava todas funções religiosas de um chefe-de-família sem desviar-Se. Quando o sol se tornava visível, o Senhor oferecia orações específicas ao deus-do-sol.” (Krishna book, "Atividades Diárias do Senhor Krishna")
Deve-se então tomar banho com água fresca e depois colocar roupas limpas para começar o sadhana do dia.
Deve-se tomar banho depois de:
- Levantar cedo pela manhã;
- Dormir mais de meia hora;
- Evacuar;
- Transpirar excessivamente, ou
- Ser contaminado de alguma maneira.
“Pratah-krtya significa que um devoto deve evacuar regularmente e então se lavar tomando banho. Deve-se fazer gargarejo (acamana) e escovar os dentes (danta-dhavana). Isto deve ser feito com um galhinho ou uma escova de dente - o que estiver disponível. Isto purificará a boca. Aí o devoto deve tomar seu banho.”
(C.c. Madhya 24.331, significado)

Higiene e limpeza pessoal devem ser mantidas. Unhas devem ser jogadas no lixo.


As mãos devem ser lavadas após urinar e devem ser lavadas com sabão. Iniciados brahmanas devem enrolar seus cordões sagrados em volta da sua orelha direita enquanto fazem o uso do vaso sanitário.
Somente a mão direita deve ser usada para comer, cantar japa, oferecer algo, aceitar algo, etc.
Deve-se descansar de seis a oito horas por noite.
Nunca se deve desperdiçar a energia de Krishna como sabão, pasta de dentes, eletricidade, água, etc. Deve-se desligar as luzes e ventiladores, sempre e onde que não sejam necessárias.
Deve-se gastar o dinheiro de Krishna discretamente e com responsabilidade, perguntando a nós mesmos se este gasto é realmente necessário para incrementar o serviço de Krishna.

Prasadam
Primeiramente e antes de mais nada, deve-se comer somente prasadam, i.e. alimento que foi oferecido a Krishna com devoção.
Idealmente deve-se comer alimento que foi:
- Cozido por devotos;
- Oferecido ao Senhor pelos devotos;
- Servido pelos devotos.
Deve-se tentar chegar o mais perto possível deste padrão ideal conforme for possível praticamente, dadas as limitações da vida cotidiana e necessidade de pregação.
Cozinha

Assim como devemos selecionar alimentos puros, excelentes para oferecer a Krishna, também devemos prepará-los puramente. Para preparar alimento para o Senhor, deve-se observar meticulosamente as regras de limpeza e tomar o máximo cuidado de preparar o alimento adequadamente, mantendo a consciência correta a fim de que o Senhor aceite a oferenda.
A cozinha é uma extensão do altar porque o que for cozido ali irá ser oferecido para as Deidades. Assim que estiver fazendo na cozinha deve ser feito com cuidado e atenção.

Onde as deidades foram formalmente instaladas tal como no templo, os padrões esperados são bastante altos e estritos. Em comparação, alguns graus de concessão poderão ser oferecidos com relação a Deidades domésticas onde não é possível manter o mesmo padrão. Por exemplo,é uma regra que não se deve comer na cozinha ou na frente das Deidades. Contudo, em muitas casas o altar, a cozinha e a mesa de jantar estão no mesmo aposento, portanto não se podem seguir as regras acima.
Chefes de família, entretanto, devem manter em mente o padrão ideal e tentar chegar o mais perto possível em sua situação em particular. Devemos sempre lembrar que estamos cozinhando para Krishna. Quanto mais cuidadosos formos com relação a estas pequenas regras, mais poderemos nos tornar conscientes de que não estamos cozinhando para nós mesmo, mas para o próprio Senhor Krishna.
Somente roupas limpas e não contaminadas devem ser usadas na cozinha. Roupas que foram usadas fora do templo ou no banheiro não podem ser usadas.
Unhas devem ser limpas e aparadas. As mãos devem ser lavadas ao entrar na cozinha antes de começar a cozinhar.
No templo, deve-se tomar banho antes de cozinhar. Em casa é preferível fazê-lo.
Não se deve colocar nada na boca na cozinha. Nem se deve enxaguar a boca na pia da cozinha. Especialmente, não se deve “provar” preparações para “testá-las”.
Na medida do possível, não se deve comer ou beber na área da cozinha. Se isso for inevitável, é preciso fechar a cortina em frente das Deidades.
As vasilhas nas quais a bhoga é cozida para as Deidades, especialmente, os pratos e copos nos quais a bhoga é oferecida, devem ser guardados e lavados separadamente dos pratos, copos e xícaras nas quais a família de devotos comem ou bebem.
No caso de toque no chão ou na lata de lixo, ou na parte inferior de nosso corpo, devemos lavar as mãos.
Não deve haver conversa desnecessária na cozinha.
A plataforma de cozinhar, fogão, pia, etc. devem ser limpos antes e depois de cozinhar.
Deve-se trabalhar cuidadosa, mas eficientemente e evitar amontoar coisas desordenadamente (em outras palavras, fazer bagunça).
Qualquer coisa que tenha caído no chão, não pode ser colocada nas mesas. Se um vegetal cai no chão poderá ser lavado e depois usado. Caso toque no pé de alguém terá de ser jogado fora.
Não se deve entrar na cozinha direto, depois de ter usado o toalete a não ser que se tenha tomado banho.
MUITO IMPORTANTE: Devotos têm que ter absoluto cuidado para que nenhum cabelo caia e contamine as oferendas. Cuidado absoluto deve ser exercido com relação a isso. Devotos precisam manter seus cabelos bem cobertos enquanto cozinham.
Maha-prasadam não deve ser comida diretamente do prato das Deidades, mas deve ser transferida para outra vasilha ou prato antes de ser comida.

Kirtan
Liderar o kirtan ou uma satsanga é uma honra já que se esta representando toda uma congregação perante as Deidades. Portanto deve-se ter consciência disso e liderar apenas quando for chamado para fazê-lo.
Devemos cantar apenas aqueles kirtans que são autorizados.
As orações Prema Dhvani (i.e. Jaya Om Vishnupad...) no final do Kirtan devem ser recitadas pelo devoto mais sênior presente, ou seja, sannyasis ou discípulos de Srila Prabhupada.
Somente as orações Prema Dhavani padrão devem ser recitadas. Exceto em ocasiões especiais como dias de aparecimento, quando a glorificação apropriada pode ser feita adicionalmente.
Existem melodias padrão para serem cantadas em horários específicos do dia. Especialmente no programa matinal as orações Sri Guru-astaka e Hare Krishna Maha-mantra devem ser cantadas na melodia matinal.
O kirtana deve ser simples e liderado de uma maneira que possa ser seguido e repetido com facilidade pela congregação.
Todos devotos devem cantar entusiasticamente no coro.
Todos os devotos devem seguir a mesma melodia que o cantor principal está cantando. Portanto devotos devem prestar cuidadosa atenção a toda hora.
Tocadores de mrdanga e karatala devem ficar perto do cantor principal e devem observá-lo cuidadosamente e ajustar a sua velocidade conforme a do cantor. Portanto tocadores de mrdangas e karatala devem ser extra-atentos.
Onde houver mais de um tocador de karatalas, eles devem tocar em harmonia. Similarmente os tocadores de mrdanga.Kirtanas devem ser doces e melodiosos, e não simplesmente altos.

Dançar
Srila Rupa Goswami declara que se aprende a dançar na frente das Deidades.
Dançar deve ser gracioso e com entusiasmo, porém não violento e selvagem.
Dançar da maneira tradicional Gaudiya conforme demonstrado por Srila Prabhupada deve ser o padrão.
Além disso, dançar pode ter lugar em várias formações. Por exemplo:
Filas de devotos ritmicamente se aproximando um dos outros e depois recuando;
Devotos formando filas um atrás do outro enquanto continuam voltados para as Deidades, movimentando-se na direção Delas e depois de afastam delas ritmicamente;
Devotos se movimentando em círculos;
Devotos devem tomar cuidado para que as formações sejam mantidas e que estejam em linhas;
Enquanto dançam em formação, os devotos devem levantar as mãos, segurar as mãos, etc. conforme seja necessário para aquela formação em particular. Dançar não é um divertimento para expectadores. Os devotos não devem simplesmente ficar de pé olhando. Todos devem participar. Contudo, aqueles que não querem (especialmente visitantes, novatos ou doentes) não devem ser forçados.
Dançar de maneira que podem causar danos aos devotos deve ser evitado, ou seja:
Dois devotos dando a mão e rodopiando;
Rodopiar sozinho com os braços estendidos;
Jogar crianças (e até mesmo adultos) para o alto ou levantá-los;
Empurrar excessivamente enquanto se move em círculos.
Mulheres e homens devem dançar em porções separadas do templo. Deve-se observar o dançarino principal
sempre e entrar em sincronia com ele. A dança perfeita é no estilo do Senhor Chaitanya, ou seja, com os braços levantados ou mãos postas com entusiasmo e devoção.

Fala
O impulso de falar é muito forte e assim que temos uma oportunidade começamos a falar. Srila Prabhupada explica que se não falamos Krishna Katha então falamos uma série de bobeiras.
Tais conversas são chamadas prajalpa e nascem de nossas realizações materiais. Portanto devotos devem privar-se disso.
Toda literatura mundana também é exibição prática do impulso de falar. Srila Prabhupada explica no Néctar da Instrução que pessoas materialistas lêem montes de jornais, revistas e novelas, resolvem palavras-cruzadas e fazem coisas sem sentido. Dessa maneira, as pessoas simplesmente desperdiçam seu valioso tempo e energia. Nos paises ocidentais os velhos aposentados da vida ativa jogam cartas, pescam, assistem televisão e debatem sobre esquemas sócio-político inúteis. Todas essas e outras atividades frívolas estão incluídas na categoria prajalpa. Pessoas inteligentes interessadas na Consciência de Krishna nunca devem tomar parte nessas atividades.
Sri Rupa Goswami advoga o processo de Krishna Kantha – conversar sobre todos assuntos conectados com o Senhor Krishna como meio de contra-agir o impulso de falar. Portanto, se tivermos que falar, devemos falar Krishna Katha.
De acordo com Krishna no Bhagavad-gita (17.15). Antes de falarmos, devemos ponderar se:
- É necessário;
- É benéfico;
- É veraz;
- É agradável;
- Nunca perturba os outros;
- E que esteja baseado nos shastras.
Devotos devem evitar conversas que ofendem, particularmente blasfêmia de devotos, que é a primeira ofensa contra o Santo Nome. Vaishnava Aparadha certamente ira sufocar nossa trepadeira da devoção muito rapidamente.
Uma outra forma de prajalpa é o que se escuta, tal como música mundana, devemos evitá-las a todo custo e preferencialmente escutar canções devocionais.

Pregação

Nossas ações em comportamentos são nossa maior pregação porque atos falam mais alto que palavras. Como diz o ditado: “Seus atos falam tão alto que não consigo ouvir o que está dizendo”.
Pregação significa transformar o coração e não simplesmente derrotar alguém intelectualmente.
Isso não quer dizer, é claro, que não devemos apresentar nossa filosofia devidamente. Todos devotos devem tentar estudar os livros do mestre espiritual e compreendê-los a fundo, tentando apresentar fielmente o que se leu e ouviu submissamente.
Não há necessidade de ler outros livros ou ir até pregadores para aprender como pregar. O servo humilde do mestre espiritual é o melhor pregador.
No final das contas o que irá mudar o coração das pessoas não é simplesmente a filosofia que estivermos falando, mas principalmente até que ponto nós absorvemos a filosofia em nossas vidas e realizarmos esse conhecimento praticamente.
Nossa pregação deve em geral ser feita numa atitude humilde e não na atitude de superioridade.
Ao pregar devemos simplesmente repetir as palavras do Mestre espiritual como um carteiro e nunca devemos pensar que sabemos mais que o Guru, como pregar. Nós
somos imponderados na medida em que estamos pregando submissamente as palavras dele.
Deve-se mostrar compaixão e interesse pela pessoa a quem estamos pregando. Pode ser que até seja preciso prestar atenção em seus problemas materiais nesse caso.
Deve-se falar a verdade, porém de acordo com desa, kala e patra, i.e. local, tempo e pessoas. Nossa meta é de tornar as pessoas Conscientes em Krishna e devemos pregar mantendo isso em mente e fazer o que é necessário.
O princípio de pregar é bem descrito por Srila Rupa Goswami no Bhakti Rasamrita Sindhu.
Yena kena prakarena manah Krishna nivesayet
De alguma maneira ou outra, deve-se pensar em Krishna.

Deve-se ter uma abordagem equilibrada enquanto se prega. Um bom pregador irá sempre compreender a necessidade dos devotos em diferentes categorias. Assim como na vida material existem banqueiros, advogados, médicos e assim por diante, na vida espiritual também existe necessidade (e sempre haverá candidatos desejosos para) a ordem renunciada e também para aqueles na categoria de chefe de família ou profissional. Ambas variedades de devotos são necessárias e valiosas.
Enquanto se prega para determinada pessoa, nossa abordagem deve ser de aconselhar o que é melhor para a consciência de Krishna dela.
Existe uma necessidade de brahmacaris qualificados, grhasthas qualificados, vanaprasthas qualificados e sannyasis qualificados, e devemos encorajar uma pessoa conforme aonde ela puder fazer melhor avanço espiritual e servir a missão de seu Guru.
A etiqueta básica deve ser seguida quando outro devoto está pregando. Ele não deve ser subitamente interrompido a não ser que seja algo urgente.
Cortesias básicas têm que ser seguidas, ou seja, pedir com um sorriso, oferecer auxílio quando alguém precisa de ajuda ou orientação.
Devemos fazer com que pessoas novas se sintam em casa e devemos dar a elas grande abundancia de amor e hospitalidade.
Especialmente aos domingos no templo, devotos devem primeiro se associar com os visitantes e novatos e depois com devotos regulares.
Enquanto pregamos para pessoas novas, devemos sempre lembrar que pregar para devotos é igualmente, se não mais, importante.
Portanto, enquanto fazemos os novatos se sentirem em casa, os devotos regulares também não devem ser negligenciados.
Em programas externos, novatos e visitantes poderão receber preferência para fazer perguntas após cada palestra, especialmente quando o tempo é limitado. Devotos regulares poderão fazer perguntas pertinentes para criar situações em que novatos seriam encorajados a colocarem suas questões, ou quando novatos tiverem terminado suas indagações e ainda houver tempo para mais perguntas.
Não devemos ser sectários. Devemos respeitar todas as religiões e sendas espirituais fidedignas. Em especial, poderemos mostrar respeito especial por outras Sampradayas Vaisnavas.

Lidando Com Devotos

Três categorias de Devotos:
Srila Rupa Goswami diz no Néctar da Instrução que deve honrar mentalmente o devoto que canta o Santo Nome do Senhor Krishna, deve-se oferecer humildes reverências ao devoto que se submeteu a iniciação espiritual, e ao nos associarmos e servimos fielmente a um devoto puro que seja avançado em serviço devocional indesejável e cujo coração está completamente isento da propensão de criticar aos outros.


Lidando com o Mestre Espiritual:
Devemos ser humildes e de forma submissa prestar serviço ao mestre espiritual.
Devemos tomar as ordens do Guru como nossa própria vida e alma.
Na presença do Guru, não se devem instruir outros sem receber a permissão dele.
Na presença do Guru, não se deve levar nossos próprios discípulos.
Deve-se simplesmente obedecer as instruções do Guru e não questionar. Não devemos desobedecer a instruções do Guru pensando que sabemos os “verdadeiros sentimentos internos” dele.
Não devemos nunca instruir nosso próprio Guru. Mesmo que queiramos apresentar algo a nosso Guru pensando que essa informação possa ser de auxilio, isso deve sempre ser num espírito humilde.
Não devemos nunca argumentar com nosso mestre espiritual.
Não se deve nunca apresentar nossa qualificação para o Guru e devemos sempre permanecer numa posição muito humilde.
Nunca se deve sentar no mesmo nível que o mestre espiritual a não ser que se receba permissão dele.
Assim como o Senhor Krishna não é diferente do Seu Nome ou retrato, similarmente não há diferença entre o mestre espiritual e seu nome e retrato. Não se deve jogar retratos do Guru e Krishna de lá para cá.
Não devemos nos associar livremente com outros gurus sem a permissão e bênçãos de nosso Guru.
Não devemos ler livros a parte daqueles escritos pelo Guru e o parampara a não ser que se tenha permissão e bênçãos.
Lidando com seniores (veteranos):
Dentro de uma tradição Vaisnava, é uma importante expressão de nossa humildade respeitar aqueles que estão na posição mais sênior do que nos próprios.
Na corrente de senioridade, o Vaisnava mais sênior é o Guru que deve ser respeitado como um representante de Deus, portanto a ele deve ser dado o mesmo respeito que ao próprio Krishna.
A seguir vem os sannyasis. Entre os próprios sannyasis, a senioridade é considerada com base em quem tomou antes a iniciação sannyasi.
Devemos oferecer respeitosas reverencias a todos sannyasis, especialmente quando primeiro os vemos durante o dia.
Mesmo sannyasis Mayavadis devem receber o devido respeito, embora não se deva ter associação com eles.
Em seguida vêm os irmãos espirituais do Guru. Eles devem ser respeitados como se respeita o mestre espiritual.
Devotos que se submeteram a diksha Brahmana devem ser respeitados. Novamente, a senioridade é determinada com base em quem foi iniciado antes.
Devemos dar o devido respeito aos devotos que aceitaram diksha antes de nós.
Respeito especial deve ser oferecido aos devotos que são veteranos na idade.
Não se deve instruir outra pessoa na presença de um Vaisnava sênior sem primeiro receber a permissão dele.
Quando uma lamparina de ghee é oferecida aos devotos depois do arati, deve-se levar em conta a senioridade.


Lidando com irmãos espirituais:
Irmãos espirituais chamam uns aos outros de prabhu. Não se deve, entretanto, tentar tornar-se prabhu apenas porque estamos sendo chamados assim. Devemos simplesmente permanecer um servo e aceitar outros como prabhu.
Nós somos os servos de nossos irmãos espirituais e devemos servi-los em conformidade com o nível particular desse irmão espiritual.
Devemos indagar submissamente de nossos irmãos espirituais seniores, executar suas instruções e aspirar a ser seu servo obediente.
Para aqueles que são nossos equivalentes, devemos servi-los fazendo amizades com eles, assistindo e encorajando-os.
Para aqueles que são juniores em relação a nós, devemos servi-los por guiá-los, orientá-los, encorajando e iluminado-os.
Nunca devemos aceitar um irmão espiritual como servo a não ser que tenhamos a permissão do mestre espiritual.
Nunca devemos permitir que o ditado a intimidade gera negligencia, entre em nossa relações com os devotos. Relações entre devotos devem ser respeitosas e sem ofensas ou duplicidade.
Devotos não devem dirigir-se um aos outros por seus nomes karmis.
Não devemos louvar a nós mesmos ou nos vangloriar de nossas consecuções ou qualificações para outros devotos. Deve-se saber que na realidade não se tem nenhuma qualificação. Tudo que conseguimos fazer simplesmente é devido á misericórdia do Guru e dos Vaishnavas
Se um irmão espiritual passa por dificuldades devido a doença ou perda de alguém da família e similares, ou está em tumulto emocional por alguma razão, devemos ajudar com palavras e ações. Como diz o ditado: um amigo na necessidade é um amigo na verdade. Os laços entre os devotos serão testados na hora da dificuldade. Não podemos ignorar tais desfechos como sendo materiais.
Se um devoto se afastou do serviço devocional e não tem sido visto na associação dos devotos por um considerável período, ele ou ela não deve ser admoestado por estar em maya ou ser reprimido. Isso só o empurrará mais para longe dos pés de lótus do mestre espiritual. Deve-se oferecer amor, encorajamento, amizade e fazer com que ele se sinta novamente em casa na companhia dos devotos.

Dirigindo-se aos Vaisnavas


Srila Prabhupada tem que ser tratado como “Sua Divina Graça”, o Guru e um sannyasi como “Sua Santidade” e um irmão espiritual como “Sua Graça”.
O nome de um irmão espiritual poderá levar o prefixo “Sriman”.
O nome de um brahmacari leva o sufixo de “Brahmacari” ou seja, Krishna das Brahmacari um grihastha leva o termo “Adhikari” e um sannyasi o termo “Maharaj”, “Swami” ou “Goswami”.


Outros Vaisnavas



Podemos oferecer respeitos mas não nos associarmos com as seguintes categorias:

Vaisnava de caráter ruim ou dúbio
Sahajiyas
Vaisnavas de sampradayas dúbias.
Sannyasis Mayavadis,


Vaisnavas não devem ser vistos do ponto de vista material.


Srila Rupa Goswami diz no Néctar da Instrução com relação ao Vaisnava: “...tal devoto não deve ser visto de um ponto materialista. De fato, deve-se fazer vista grossa pelo fato de um devoto ter nascido numa família inferior, ou possuir um corpo com a pele ruim, ou deformado, ou doente, ou fraco.”
Em outras palavras deve-se fazer vista grossa para todos defeitos corpóreos ou má aparência, nascimento baixo, educação baixa, etc. Qualquer vaisnava que serve o Senhor deve ser considerado Santo.
Nos shastras declara-se que é mentalidade infernal considerar um Vaisnava como nascido em certa casta ou credo, ou considerar o mesmo sendo uma pessoa comum.


O corpo do Vaisnava é um templo


O corpo do Vaisnava deve ser visto como um templo de Vishnu. Portanto enquanto se oferece reverências a um Vaisnava devemos lembrar que também estamos oferecendo reverências ao Senhor Vishnu dentro do coração.
Portanto nunca devemos andar por cima do corpo de um Vaisnava.


A misericórdia dos Vaisnavas é necessária


Não se deve começar qualquer empreendimento em nossa vida sem primeiro receber as bênçãos dos Vaisnavas.
Devemos sempre nos sentir dependentes dos Vaisnavas.




Trocas amorosas entre Vaisnavas


Srila Rupa Goswami explica no Néctar da Instrução que há seis trocas amorosas entre Vaisnavas.

- Oferecer presentes em caridade,
- Receber presentes como caridade,
- Revelar nossa mente na confidência
- Indagar confidencialmente
- Aceitar prasadam
- Oferecer prasadam

Quando se vem ao templo deve-se aceitar prasadam dos vaisnavas.
Para grhasthas, é o dever deles convidar os Vaisnavas para seus lares e oferecer prasadam.
O presente mais precisos que podemos dar ou receber é a dádiva de Krishna-Katha, o conhecimento transcendental da consciência de Krishna.
Grhasthas morando fora do templo devem tentar chamar devotos da ordem renunciada para pregarem em suas casas.


Lidando com as Matajis

A uma mulher se deve dar todo o respeito, especialmente se ela for uma Vaisnavi, e deve tratá-la como tal.
Um brahmcari deve ver cada mulher como sua mãe e um grhastha deve ver cada mulher exceto sua esposa, como sua mãe.
Brahmacaris devem associar-se com matajis apenas na medida do necessário para executar o serviço devocional e não mais.


Lidando com Visitas


Quando chegam visitas ao nosso templo ou casa, é etiqueta Vaisnava tratá-los com grande respeito e amor. Eles devem ser recebidos com doces palavras, um assento, água e prasadam conforme nossas possibilidades.



Lidando com Não Devotos


Há duas categorias de não devotos:
Para inocentes devemos ser o bem-querente. Com respeito devemos tentar iluminá-los e dar-lhes a associação de nosso mestre espiritual. Mas não devemos ocupá-los em atividades que lhes dêem prazer na vista, i.e. em atividades materialistas.
Com relação aos ateístas, devemos evitá-los. É uma ofensa ao Santo Nome pregar para tais pessoas. Podemos no entanto pregar se quiserem submissamente ouvir de nós.



Cumprimentando não-devotos:

Se o não devoto é um amigo, podemos dizer “Hare Krishna” e nos curvar diante dele ou dela.
Se o não devoto é um parente superior, então devemos cantar Hare Krishna e nos curvar diante dele ou dela.
Caso se encontre uma pessoa que está criticando Guru, vaisnava ou o Shastra, então se deve derrotá-lo profundamente num debate ou deixar o lugar imediatamente. Ouvir tais ofensas é um dos maiores obstáculos em nosso desenvolvimento espiritual.




Sadhana
Na prática da Consciência de Krishna a pessoa tem que aceitar e seguir sinceramente diversos princípios regulativos, tanto negativos quanto positivos. Srila Rupa Goswami listou 64 de tais princípios, 5 dos quais são considerados os mais importantes:
- Adorar a deidade;
- Ouvir o Srimad Bhagavatam;
- Associação com os devotos do Senhor;
- Cantar o Santo Nome e;
- Residir no Sagrado Dham (ou adorar Tulais Devi).

Japa

Cantar o Santo Nome do Senhor é a atividade mais importante na vida de um devoto. Cantar japa é um processo essencial dado por todos os grandes Acharyas para a purificação do coração. É o primeiro voto que o devoto faz diante do mestre espiritual no momento do diksha. Por isso cantar pelo menos 16 voltas de Hare Krishna Maha Mantra diariamente, sem falhar, é uma obrigação para cada devoto sério.
Srila Prabhupada diz que 99% de nosso avanço espiritual provém de cantar o Santo Nome. Assim um devoto que canta sincera e regularmente pelo menos 16 voltas todo dia, evitando ofensas, irá fazer rápido progresso na Consciência de Krishna.
Japa: Uma Atividade Exclusiva

Quando damos importância a alguma atividade, reservamos algum tempo exclusivamente para aquela atividade. Similarmente, todo devoto tem que passar o tempo requerido para cantar suas voltas exclusivamente na japa e não em outra atividade, mesmo se for em alguma forma de serviço devocional.
Enquanto se canta as 16 voltas, por exemplo, a pessoa não deve ler jornais, conversar ou assistir kirtanas. Japa é uma atividade que demanda nossa atenção completa, indivisa.
Durante a japa, chamadas telefônicas não devem ser recebidas. Pode-se educadamente pedir a quem chama, para deixar um recado ou ligar de novo mais tarde.
Quando cantamos o Santo Nome, estamos em comunhão direta com o Senhor Supremo, Sri Krishna, porque Krishna não é diferente do seu Nome. Na forma de Seu Nome, Krishna, a mais importante Personalidade em toda criação, está nos dando audiência. Portanto, não devemos permitir que nada interrompa esse Sagrado “Encontro”. (Lembre-se: onde existe uma vontade, há um jeito).



Desejo Intenso

O fundamento de nossa vida espiritual é o desejo intenso, se não conseguimos desejar temos que desejar desejar e assim poder ser abençoados por Krishna . Nosso forte desejo e avidez por cantar o Santo Nome é muito agradável a Krishna e é o requisito fundamental de uma boa japa.
O desejo forte deve manifestar-se em firme determinação de cantar nossa quota prescrita de voltas todo dia mesmo em circunstancias adversa, provocações e na tentativa de melhorar a qualidade da nossa japa. Portanto, temos que nos determinar a fazer cada ato necessário para chegar ao padrão da boa japa qualitativamente e quantitativamente, e evitar todo ato que possa estragar nossa japa .
E como se pode aumentar a intensidade de nosso desejo e determinação? Através do processo de nityam Bhagavata sevaya – servindo regularmente os devotos e ouvindo submissamente Krishna-Katha.

Ouvir Atentamente

Nossa japa é tão boa quanto nossa qualidade de ouvir, portanto ouvir atentamente é o mais importante aspecto da japa. Srila Prabhupada fala: Concentrem plenamente na vibração sonora do mantra, pronunciando cada nome distintamente... não se preocupem tanto em cantar rápido, o mais importante é ouvir. Novamente, - Enquanto cantam, tentem ouvir cada palavra mui cuidadosamente...
Sem ouvir atentamente, nossa japa irá se tornar mecânica e insossa.


Fé Firme no Santo Nome

“O que se deve fazer é cantar o Santo Nome do Senhor com fé, entusiasmo e firme convicção na declaração do Senhor Caitanya de que simplesmente por cantar o Maha-Mantra, a pessoa pode ser gradualmente elevada à plataforma mais elevada”.
(Srila Prabhupada)


Compreendendo o Significado do Maha Mantra

Como o Maha-Mantra é a vibração sonora transcendental, irá atuar quer saibamos o significado do mantra ou não. Contudo devemos saber exatamente o que estamos orando quando cantamos o Maha-mantra. Srila Prabhupada explica:
Nossa oração do Hare Krishna Maha-Mantra significa dirigir-se a Radha e Krishna para nos ocuparmos no serviço Deles. Hare é uma palavra composta – “Hara” e “e”. “Hara” significa: as energias internas de Krishna, que se apresenta sob a forma de Srimate Radharani, “e” é um invocativo. “Krishna” se refere ao próprio Krishna, aquele que tudo atrai e “rama” quer dizer a fonte de todo prazer. Então o significa do Hare Krishna Maha mantra é: Ó Radharani! Por favor, ajude-me e ocupa-me no serviço de seu amado Krishna, para que eu possa ser liberado de servir a maya. Ele que é a fonte de todo prazer pode verdadeiramente me livrar do sofrimento, a distancia de Seus Pés de Lótus.

Estado de Espírito de Oração Devotada

Como o Hare Krishna Maha-Mantra é uma oração, devemos, com plena compreensão do significado do mantra, cantar num estado de espírito de oração devotada. Nosso cantar tem que ser como um desesperado grito de uma criança perdida chorando por sua mãe. O humor tem que ser de desamparo e completa dependência de Krishna.

Nenhuma Motivação Material

Em nossa bhakti-marga, somos treinados a proceder rumo a meta de serviço devocional puro, imotivado, ininterrupto ao Senhor. Portanto não devemos procurar benefícios materiais e facilidades para o desfrute sensorial através do cantar. O único favor fidedigno para pedir ao Senhor é o serviço a Ele e a capacidade e oportunidade de cantar Seu Santo Nome sempre. Srila Prabhupada diz que devemos orar a Krishna conforme a seguir: Meu querido Krishna, por favor não me coloque no esquecimento, mesmo se me mandar para o inferno não importa, desde que eu possa sempre cantar Hare Krishna.


Humildade

O Senhor Caitanya diz em Suas orações Shikshastakam que a não ser que se seja mais humilde que uma folha de grama (trinad api sunichena) não se consegue cantar o Santo Nome sempre. Se bem que a humildade vem natural e automaticamente no decorrer de nosso progresso em bhakti, a pessoa deve também tentar conscientemente ser humilde em todas relações e em tudo, particularmente com devotos. Devemos nos guardar contra falso orgulho e atuar para dominá-lo no momento em que levantar nossa cabeça. Orgulho e o Santo Nome não caminham juntos.


Ambiente Adequado

Deve-se selecionar um ambiente que seja conducente a uma boa japa. Na medida do possível dentro da sala do templo e numa cidade como São Paulo, deverá encontrar um local isolado, silencioso e onde não haja distrações. Sentados em nossa varanda, cantando japa enquanto vemos a vida passar na rua, por exemplo, não é uma boa maneira de cantar japa.
Novamente, muitos devotos tem que viajar um longo trajeto via transporte público até seu local de trabalho. Sem dúvida, devotos podem cantar enquanto se locomovem, mas tal cantar deve ser considerado um cantar adicional e não parte da quota prescrita de 16 voltas, já que a qualidade do cantar não será boa.





Postura Sentada de Pé ou Andando

Em vários vídeos podemos ver Prabhupada cantando japa caminhando. Caso estejamos com a mente alerta, a postura sentada traz uma japa de muito boa qualidade. É recomendado que a pessoa sente-se de pernas cruzadas, com as costas eretas. Encostar as costas contra a parede, encurvar-se ou mesmo descansar os cotovelos sobre os joelhos ou coxas deve ser evitado pois induz ao sono mui rapidamente. Pior ainda é ficar esparramado numa cadeira ou deitar numa cama – estas são maneiras tiro-e-queda para cair no sono.
Caso se esteja sentindo sono ou se a mente esta excepcionalmente inquieta, então é melhor ficar de pé ou andar durante a japa. Afinal o que adianta se o corpo esta quieto mas a mente esta movimentando-se rapidamente aqui e acolá?
Enquanto se esta de pé, a pessoa deve sempre evitar a tentação de encostar-se contra um apoio para que não caia num sono. A mente condicionada está sempre presente procurando por meios de nos burlar para não apreciarmos os Santos Nomes de Krishna.
Muitos devotos preferem cantar japa enquanto caminham. Embora isso certamente seja autorizado pelos Acharyas, deve-se ter cuidado de evitar olhar para cá e para lá. Uma sugestão que ajuda é caminhar com a cabeça levemente inclinada para baixo.


Japa Não é Corrida

As vezes poderá ser tentador ganhar do relógio, correr na japa para terminar as 16 voltas em menos tempo que no dia anterior. Isso deve ser evitado. Cantar clara e atentamente deve sempre ser enfatizado. A pessoa poderá ajustar-se a uma velocidade em que se sinta naturalmente confortável. As palavras do Maha-mantra não devem ser “engolidas”. Não se deve comprometer a qualidade da japa por nenhum preço. Para muitos devotos 16 voltas levam pouco menos de duas horas.


Sempre Discutam

Japa é tão importante que os devotos devem discutir este assunto regularmente e enfatizar sua importância e compartilhar realizações.


Japa – A Melhor Associação dos Devotos

Embora a japa seja uma disciplina individual, é aconselhável fazê-la na associação dos devotos. Enquanto se canta sozinho, poderemos tornar relaxados, negligentes ou sonolentos. Sem contar que nossa mente nos levará para regiões que pode ocasionar nossa queda, Bhaktisidanta já no segundo verso de seu livro Vaishnava Ke? nos alerta quanto a japa solitária, ele diz: “minha querida mente... Que valor espiritual tem o seu cantar solitario? Com o pretexto de desempenhar uma adoração solitária, na verdade, você está se enredando nas atividades materiais temporárias!”
Na associação com os devotos, estamos sempre sob escrutínio e sempre tem alguém para checar se estamos “viajando”. Quando devotos cantam japa juntos, isso ativa fortes vibrações e é maravilhoso cantar em tal ambiente.
Sempre que possível os devotos devem comparecer a japa matutina no templo. Alternativamente, os devotos que ficam em casa, podem encontrar –se num local em comum parar todos cantarem juntos. Isso é altamente recomendado.


Japa de Manhã Cedo

A japa deve ser cantada cedo de manhã, idealmente durante o Brahma Muhurta. Se esse horário não for possível, deverá ser cantada o mais cedo possível. Levantar cedo é obrigação para todos os devotos e não se deve abrir mão disso. É interessante ter um horário fixo para japa. A disciplina relativa aos horários é um importante elemento de sadhana bhakti. Deve-se tentar terminar 10 a 12 voltas antes de sair de casa para o trabalho ou iniciar alguma atividade no templo. Quanto mais, melhor.

Volume da voz

A japa deve ser cantada baixinho para si mesmo ou em voz alta. Uma boa japa não necessariamente significa um japa em alto volume. O que é importante não é quão alto estamos cantando, mas com quanta atenção estamos ouvindo. Ao cantar entre devotos, devemos ter a sensibilidade de não perturbar a atenção deles.




Ofensas Contra o Santo Nome

Deve-se evitar as dez ofensas contra o Santo Nome. Prabhupada diz que cantar com qualidade significa evitar ofensas.
As dez ofensas são:

- Blasfemar os devotos que dedicam suas vidas à propagar os Santos Nomes do Senhor;
- Considerar os nomes de semideuses são iguais ou independentes dos nomes do Senhor Visnu;
- Desobedecer as ordens do mestre espiritual;
- Blasfemar a literatura védica ou literaturas que seguem a versão védica;
- Considerar que as glórias de cantar Hare Krishna são produtos da imaginação;
- Interpretar os Santos Nomes do Senhor de alguma maneira deturpada;
- Cometer atividades pecaminosas apoiando-se na força do cantar dos Santos Nomes do Senhor;
- Considerar o cantar de Hare Krishna como uma das atividades fruitivas contida na seção karma-kanda dos Vedas;
- Instruir um infiel sobre as glórias do Santo Nome;
- Não ter fé completa no cantar dos Santos Nomes e manter algum apego material, mesmo após compreender tantas instruções sobre o assunto.

O cantar desatento também é considerado uma ofensa.



Não se deve esquecer de cantam o Guru Pranama mantra e o Pancha Tattva mantra antes de começar a cantar o Maha-Mantra Hare Krishna.

Gayatri Mantra

No Srimad Bhagavatam (11.27.11), o Senhor Krishna instrui Udhava:

Fixando a mente em Mim, o devoto deve adorar-Me por meio de seus diversos deveres prescritos, tais como cantar o Gayatri mantra nas três junções do dia. Tais atividades são ordenadas pelos Vedas e purificam o adorador das reações às atividades fruitivas.

Devotos que recebem a segunda iniciação devem cantar diariamente os gaytris mantras nas junções(sandhyas) do dia, ou seja no alvorecer meio dia e pôr-do-sol.
Quem não canta os gayatris na hora apropriada e considerado que ofendeu Gayatri-devi, porem se por alguma razão não foi possível cantar o mesmo deve ser cantado junto com o outro. Por exemplo se o gaytri matinal for negligenciado, deve-se canta-lo junto com o do meio-dia, deve-se observar que esse gayatri é cantado entre o momento das deidades tomarem Sua refeição e Seu descanço, e se por ventura os primeiros gaytris do dia (vespertino e do meio-dia) forem negligenciado deve-se então cantar todos os gaytris antes do horário que as deidadesw vão descansar.

Cordão sagrado (Upavita)

Os devotos iniciados que recebem o cordão sagrado não devem tirá-los de seu corpo. O cordão deve ser mantido limpo lavando diariamente durante o banho; deve ser feito sem removê-lo, mas sim ensaboando e esfregando.
Ao evacuar deve-se enrolar ao redor da orelha direita (já que todos os tirthas sagrados residem na orelha direita, o cordão permanece puro mesmo que o resto do corpo não).
pode-se enrolar o cordão em volta da sintura quando for preciso tomar uma massagem ou consulta médica etc.


Quatro princípios regulativos
Deve-se seguir estritamente quatro princípios regulativos:
- Não comer carnes, peixes e ovos (evitar artigos como cebolas, alho e cogumelo);
- Não se intoxicar (evitar bebida alcoólicas, chá preto, tabaco em qualquer forma de tóxico);
- Não praticar sexo ilícito (sexo fora do casamento);
- E não jogar jogos de azar, inclusive especulação na bolsa de valores, negócios comerciais, loterias, etc.
Esses princípios são observados para podermos adquirir qualidades elevadas tais como:
- Compaixão
- Austeridade;
- Pureza e limpeza;
-Veracidade.
Aos seguir os princípios devemos desenvolver tais qualidades pois se não, serão como jóias num cadáver. Ao decorar-se um cadáver com jóias preciosas elas continua com sua magnanimidade, mas, apenas enfeitando um corpo morto, da mesma forma os princípios são jóias, mas se seguidos por pessoas que não desenvolveram tais qualidades, não passam de atividades benéficas e nada mais.

Devotos devem evitar:
- Assistir filmes comerciais;
- Novelas e programas de televisão.
- Ler romances e outras obras não-devocionais
- Ler revistas que tratem de filmes, esportes, política, sexo, assuntos sociais, etc.
Tais atividades irão simplesmente contaminar nossa consciência e nos encorajar a violar os quatro princípios regulativos na ação.

LEITURA
a) Devotos devem ler diariamente os livros de Prabhupada e de devotos autorizados em nossa linha de sucessão discipular, por exemplo Bhagavad -Gita, Srimad Bhagavatam, etc. Pode-se começar pelos livros introdutórios tais como Néctar da Instrução.
b) Outros livros devem ser evitados.
c) A leitura deve ser feita de maneira séria, atenta e sistemática e não casualmente, como ao ler um romance. É aconselhável tomar notas enquanto se lê e memorizar slokas importantes.
d) Ler é necessário para melhorar nossa compreensão filosófica. Isso fortalece nossa convicção, fé e discriminação.
e) Ler é importante para um pregador.
f) “Ler” também é “ouvir”.
g) Também se deve aproveitar a boa coleção de palestras em fitas gravadas na biblioteca do templo.


SEVA
a) Devemos tentar ocupar-nos em algum seva especifico para a missão do mestre espiritual. Pode-se consultar a autoridade local e pedir uma ocupação.
b) Existem também diferentes tipos de seva que podem ser realizados no templo e nos programas do templo.




Notas finais


Tudo isso deve ser observado sobre um prisma individual, devemos primeiramente nos observar, nunca devemos focar nossos esforços em ver se os devotos estão ou não seguindo tais regras e sim se estamos seguindo.
Como Prabhupada sempre fala “o exemplo é melhor que o preceito”.


Om Tat Sat...